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  • Escrito por Wallace França | Editor Douglas Cavalcante

Semana dos Direitos Humanos promove debates e interação entre os projetos da UNAS

A UNAS Heliópolis e região é uma organização social que atua no território desde sua origem, onde os recursos básicos e as condições de moradia não existiam, potencializando a necessidade da articulação e mobilização popular e coletiva na luta pela garantia dos direitos humanos, tornando-se a grande bandeira de luta e atuação da UNAS. Muitas conquistas vieram a partir dessa consciência dos direitos, mas a necessidade de promover o debate, destacando que o cumprimento da efetivação dos direitos é função do Estado, se faz necessário a todo momento, onde a população fortalece essa luta.


No período entre os dias 28 a 31 de agosto, projetos e serviços promoveram uma incrível e intensa jornada de informação através da tradicional Semana dos Direitos Humanos, que tem como principal objetivo trazer para realidade e para o conhecimento dos atendidos, conteúdos de formação dos direitos humanos, sua essência, aplicação e também quais ações são propostas para garantia plena desses direitos. Rodas de conversa, palestras com convidados especiais, vídeos, mesas de debate, atividades lúdicas e de audiovisual, são alguns exemplos de como os projetos e serviços atuaram na formação dos cerca de 5 mil atendidos das diversas faixas etárias que tiveram a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos.



Um dos projetos que participaram da semana de formação foi o MUDEM – Manos e Minas Unidos Descontruindo o Machismo, que possibilitou dois importantes momentos para os multiplicadores do projeto, que são adolescentes, e também para as crianças atendidas nos CCA’s 120 e Heliópolis. A primeira atividade contou com a participação da Delegada Nadia Aluz responsável por uma das Delegacias da Mulher, trazendo um pouco da rotina de atendimentos das mulheres vítimas de violência que procuram a delegacia para realização do boletim de ocorrência. A escolha desse tema vai ao encontro do objetivo do projeto MUDEM que é justamente combater e discutir sobre a temática do machismo com a juventude em caráter de prevenção através da informação, do diálogo e da denúncia dessas violências.


A segunda atividade aconteceu em parceria com o VANEN – Violência aqui não entra não!, onde juntos desenvolveram e aplicaram um jogo chamado “Guardiões da Infância” que tem como objetivo identificar os vários tipos de violência e a conscientização de que essas violências não podem acontecer. A ação foi ministrada para as crianças do CCA Imperador. Bullying, discriminação de gênero, intolerância religiosa, sexualização infantil, violência doméstica, lgbtfobia, racismo, foram algumas das temáticas abordadas no jogo e na reflexão com os presentes.



Diversos temas foram trabalhados, tais como Educação, Consciência de Classe, Racismo Ambiental, Cultura Periférica, Representatividade, Estatuto do Idoso, Intolerância Religiosa, Raça, Gênero, Esporte, entre outros. Dentro da escolha dos temas, educadores, professores, coordenadores pedagógicos e gestores, ampliaram as discussões através do entendimento da própria realidade dos territórios e das diversas vivências demandadas pelos próprios atendidos, aproximando ainda mais as reflexões com a realidade.


Exemplo disso foi a escolha do CCA Imperador que promoveu uma importante discussão cuja o tema foi “A reforma da política de drogas e a violência policial nas periferias”, onde o bate papo com as crianças e adolescentes permeou assuntos como a redução de danos, o antiproibicionismo e as consequências da politica de guerra as drogas nas periferias. Um tema complexo, mas que foi idealizado pensando justamente na realidade de um território que vive essas questões diariamente como destaca Indira Gabriela Ribeiro, coordenadora pedagógica do CCA Imperador.


“A guerra às drogas afeta um público especifico. Por exemplo, pessoas ricas também usam drogas, só que é aquilo que vemos no jornal, o branco rico ele é um usuário ou um portador de drogas. O pobre, preto e favelado é um traficante, um bandido. Existe uma leitura errada, que é o preconceito racial e de classe. Pensando nisso, a gente trouxe esse tema por que o tráfico de drogas faz parte do território periférico que são os mais marginalizados, afetando cada vez mais crianças e adolescentes, que a partir dos 11, 12 anos, já usam as drogas K, lança perfume, maconha. Ou seja, a tantos anos usamos a narrativa de não usem drogas, a droga mata, mas as pessoas continuam usando, o que a gente vai falar para essa comunidade? Para as crianças o tema foi abordado na questão do que é a droga, seus efeitos e consequências e que existe um processo e um tempo para tudo na vida, respeitando cada etapa. Para os adolescentes, o trabalho esteve voltado para o debate em relação ao uso medicinal, de quem é o interesse da não descriminalização da maconha, o uso a partir da prática tradicional e cultural de diversos povos e o que diz a lei em relação ao porte e uso de drogas e como a população da periferia sofre com tanto preconceito e violência a partir dessa guerra às drogas.”



O debate contou com a participação de dois arte educadores que atuam nos CCA’s da UNAS através do projeto Garoto Cidadão, Flor Costa e Buia Kalunga e do advogado Michael Dantas, membro diretor da Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas. O foco da oficina parte justamente do entendimento de que pessoas e famílias atendidas estão muito próximas dessa realidade ou até do próprio convívio, e que as ações do Estado buscam criminalizar e não entender e atender essa população. Para Flor Costa, a ideia do debate e de trazer perspectivas diversas em relação a um tema que desperta grandes oposições de opiniões é principalmente não mistificar a realidade em que essas crianças e adolescentes vivem e sim possibilitar um ponto de escuta, acolhida e principalmente de informação.


“A maioria das nossas crianças já ouviu falar de droga, já viram pessoas fazendo uso de droga, tem familiares que estão envolvidos com o tráfico ou em situação de cárcere. Então a partir do momento que a gente traz esse debate, estamos conversando com eles justamente sobre a guerra as drogas que é a forma que o Estado encontrou para intervir de forma violenta na favela, para que eles possam entender de onde vem essa violência, o por que dessa violência, a questão da droga para além da polícia e sim, trazendo a questão para a demanda de saúde pública. As crianças munidas do conhecimento, vão poder realizar as escolhas com maior consciência assim que uma situação dessas atravessar sua realidade, apresentando as consequências das suas escolhas a partir da informação. O reflexo da oficina foi justamente perceber que todo esse contexto é familiar para essas crianças, onde elas se reconhecem nas diversas apresentações da temática, dando indícios de que é importante trabalhar os direitos humanos de maneira contínua".


A Semana dos Direitos Humanos é realizada pela UNAS com apoio da Actionaid Brasil

, parceira de longa data na luta por efetivação de direitos.

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