Reinauguração da Biblioteca Comunitária de Heliópolis marca os 18 anos de fomento à cultura, literatura e a educação
Biblioteca reabre suas portas depois de cerca de 10 meses fechada para uma grande reforma estrutural. Um dia especial para toda comunidade que aguardou ansiosamente essa reabertura e que valoriza e reconhece o trabalho realizado nos 18 anos de existência desse importante espaço de cultura e educação
A Biblioteca Comunitária de Heliópolis foi criada em 2005 pela UNAS Heliópolis e Região com o apoio do grande arquiteto e amigo Ruy Otake e do escritor Antônio Candido que fez a doação de cerca de 1700 livros. Hoje, depois de 18 anos, o acervo contabiliza 14 mil livros com uma grande diversidade de títulos e estilos literários. O objetivo da biblioteca sempre foi promover o acesso à literatura de forma gratuita dentro da maior favela de São Paulo. Com a reforma e ampliação do espaço, novas possibilidades de atuação serão possíveis de serem realizadas, como o aumento do acervo, a prospecção de novos parceiros e apoiadores e a continuação do trabalho artístico através de oficinas.
Ter um espaço com acesso a literatura dentro da comunidade se tornou algo de grande impacto para toda população, que encontrou próximo de casa, um local que potencializa e prioriza a leitura, a cultura e as diversas linguagens artísticas que partem dos livros para outras tantas possibilidades, transformando-se em uma Biblioteca Viva, indo ao encontro das necessidades do território. Há alguns anos, foi constatado a necessidade de uma reforma que pudesse potencializar a visibilidade e o acolhimento das pessoas. Foi nesse momento, que outra importante parceria foi estabelecida com o Consulado da República Tcheca que realiza anualmente ações que visam financiar projetos no mundo todo, onde a biblioteca foi beneficiada. Vera Matysikova, que na época trabalhava no consulado, nos conta da alegria e emoção em ver o espaço totalmente revitalizado.
“O governo da República Tcheca dispõe de um programa que apoia projetos sociais em todo o mundo, através das embaixadas e dos consulados onde são apresentadas iniciativas locais que necessitam de apoio. Em 2021, conhecemos a UNAS e seus projetos e estabelecemos o primeiro contato. No ano seguinte foi apresentado o projeto de reforma da Biblioteca Comunitária que foi aprovada. Na minha primeira visita fiquei muito apaixonada por tudo que é realizado aqui, sobretudo pela energia do pessoal que nos receberam. Fiquei admirada pela energia positiva, pela alegria e entusiasmo das pessoas que queriam mesmo fazer o projeto acontecer. Hoje estou surpresa e emocionada em reencontrar o espaço todo reformado, ficou tudo muito bonito, com bastante luz, potencializando o acervo que é incrível.”
Com o aporte financeiro para reforma, uma grande etapa começou a ser feita que foi justamente a retirada de todo acervo e mobiliário para o começo das obras que tinha como proposta, uma mudança estrutural e a ampliação de mais um andar. Livros foram distribuídos para o armazenamento em diversos projetos e salas da UNAS, bem como as prateleiras, o que mobilizou trabalhadores, voluntários e pessoas que frequentam o espaço, um verdadeiro mutirão para que a reforma pudesse começar.
Durante esse período, os empréstimos dos livros não foram possíveis, mas as oficinas promovidas pela biblioteca continuaram a acontecer em outros projetos de forma itinerante, ampliando ainda mais as possibilidades de atuação. Maria Lia Santos, voluntária e oficineira da Biblioteca conheceu o espaço a muito tempo atrás e se aproximou ainda mais quando iniciou o seu curso técnico de biblioteconomia. Em 2020 durante a pandemia, encontrou no trabalho voluntário na biblioteca, um refugio e uma oportunidade de contribuir com a comunidade.
“Estava fazendo o meu trabalho de conclusão do meu curso técnico quando me aproximei da Ângela e recebi o convite para ser contadora de histórias de maneira voluntária. Na pandemia, descobri que eu tinha um grau de ansiedade muito mais forte do que eu imaginava, não saia de casa, quando recebi o convite de participar para ajudar e mesmo com receio, ajudei nas contações de história e na entrega das cestas para comunidade. Além da medicação, a biblioteca me curou e me fortaleceu, onde percebi que o trabalho da biblioteca era bem maior do que eu imaginava. Quando recebi a notícia da conquista da reforma, fiquei muito feliz por saber da real necessidade da ampliação e da revitalização. Foi muito trabalho para retirar os livros do espaço e realocar em outros locais e maior que o trabalho foi a expectativa para a finalização da reforma tanto pela equipe, quanto pela comunidade. Com o final desse processo, outra etapa começou que foi reorganizar todo o acervo nas novas prateleiras, colocando o nosso toque. Hoje o sentimento é de gratidão e felicidade por voltar a atender o público nesse novo ciclo que promete ser muito especial.”
Todo esse período de expectativa e de muito trabalho envolvendo a retirada e recolocação do acervo precisava ser marcado por uma grande festa de reinauguração que aconteceu durante todo o dia (27) e procurou envolver o maior número de pessoas e atividades como a contação de histórias para as crianças das creches com a participação do Chico dos Bonecos que levou muita animação para a criançada durante o período da manhã e da tarde. A festa contou com um super bate papo com as autoras Luciane Bonace e Isabel Peres que receberam o público para dialogar sobre seus livros. Durante o intervalo das atividades, teve muita música com a artista Aline Lopes que através das canções, embalou a tarde da reinauguração. Um momento muito emocionante e especial foi a exposição da placa da Biblioteca que também foi palco para uma merecida homenagem para o arquiteto Ruy Ohtake. No começo da noite e para finalizar o evento, a biblioteca foi palco para realização do tradicional Sarau da Resistência organizado pelos Movimentos Populares da UNAS que com microfone aberto, contou com participações musicais, intervenções artísticas, leitura de poemas e manifestos, fazendo memória da luta pela democracia e dos acontecimentos do triste período da ditadura militar.
Para Ângela São José, coordenadora da biblioteca os desafios da reforma e os diversos desafios desse período, traduz a força e a resiliência das pessoas que trabalham e apoiam esse espaço que simboliza a resistência na construção do Bairro Educador.
“Essa pausa e reforma foi necessária por que já queríamos receber melhor o nosso público que aumenta a cada ano, inclusive as pessoas idosas que através da reforma, possibilitou essa acessibilidade. Hoje vejo a reinauguração como uma grande vitória para UNAS e para toda comunidade. Ela está linda e vamos seguir buscando melhorias, por que esse espaço tem sede, tem necessidade pela literatura, pela cultura, atendendo diversas idades, tornando-se um local de formação, de leitura e de capacitação. Eu vejo essa reforma como um divisor de águas, com um objetivo comum que foi alcançado, ampliando e diversificando cada vez mais a nossa programação, como um gesto de verdadeiro agradecimento para comunidade e a todos os parceiros que tanto valorizam esse espaço. A parceria aqui vai além, e não podemos deixar de agradecer ao Ruy Ohtake que não está mais entre nós, mas que será homenageado hoje na nossa reinauguração como um símbolo dessa rede solidária entre projetos, iniciativa privada e a comunidade em projetos ligados a projetos para educação e a literatura por que é isso que transforma vidas.”
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