Projeto de alimentação saudável promove bem estar para pessoas idosas
Projeto Alimentando Vidas promove ações para uma alimentação saudável e afetiva para pessoas idosas em Heliópolis
Nos últimos anos a população brasileira, mais especificamente, as pessoas que moram nas periferias do país, retornaram ao cenário da fome e da insegurança alimentar. Questões como a má distribuição da renda, o alto índice de desperdício de alimentos e o encarecimento dos produtos, provocaram ainda mais essa situação crítica e desumana. Quando trazemos para análise o recorte da população idosa, encontramos questões ligadas também as fragilidades físicas e psicológicas devido a escassez de uma alimentação saudável, onde maiores atenções e cuidados, não são possíveis, comprometendo dietas alimentares mais restritas, potencializando o surgimento de doenças crônicas.
Na contra mão dessa situação, a UNAS Heliópolis e Região em convênio com o Fundo Municipal do Idoso, lançaram em novembro de 2023, o projeto Alimentando Vidas que está em execução no Centro Dia para Pessoas Idosas – Nelson Mandela. O Centro inaugurado em 2015, atende 30 idosos possibilitando a proteção social especial, com visitas e ações que promovam a sua inclusão, por meio do fortalecimento das relações familiares, além de cuidados específicos realizados por uma equipe de cuidadores, terapeutas, psicólogos, nutricionistas e assistentes sociais.
O objetivo do Projeto Alimentando Vidas é realizar a educação nutricional com a promoção de hábitos alimentares saudáveis, visando à melhoria de bem-estar, saúde e qualidade de vida dos idosos, por meio de oficinas de culinária, acompanhamento nutricional com os responsáveis, palestras, criação e manejo de uma horta dentro do próprio projeto, estimular a alimentação saudável, resgatar a memória alimentar e promover a socialização entre os idosos e suas famílias.
Para Bianca Lauriano dos Santos, nutricionista do Centro Dia para Pessoas Idosas, essa iniciativa estimula a relação dos participantes do projeto com uma alimentação saudável como nunca vista antes, com uma nova abordagem que só foi possível por intermédio do projeto, aproximando-os da escolha e dos preparos, reduzindo as resistências em relação ao cardápio diverso e saudável.
“O projeto visa a alimentação saudável trazendo conhecimento para que eles tenham essa vivência, resgatando memórias como no caso da horta, onde muitos têm essa história da roça, do plantar, e isso aumenta inclusive a interação entre eles e as possibilidades no uso desses alimentos. Para que isso aconteça, realizamos rodas de conversas e a partir das demandas e ideias deles, vão surgindo as opções de cardápios e o planejamento onde em cada dia, trabalhamos uma etapa desse processo que envolve atividades culinárias, reaproveitamento e a utilização dos alimentos da horta. Trabalhar com os idosos é algo muito importante para mim pois é justamente a minha área de especialização que eu amo muito, afinal de contas a nutrição perpassa a relação de vínculos, cultura, o gosto, as preferências, a saúde e o resgate da alimentação, na sua maioria nordestina.”
O impacto da alimentação saudável, focada em alimentos naturais e menos industrializados, é atestada por médicos e diversos profissionais da pesquisa e da nutrição, melhorando a saúde das pessoas, reduzindo as possibilidades das doenças crônicas como a hipertensão e a diabetes. Dentro das preparações, algo também explorado pela equipe técnica do projeto é a inclusão de exercícios para uma melhora na mobilidade através de exercícios que vem sendo explorado com o manuseio da horta e das ferramentas utilizadas na culinária das preparações como destaca Lucila Braga Moura, fisioterapeuta do projeto. “Dentro da minha atuação enquanto fisioterapeuta, trabalhei em uma IPLI (Instituição de Longa Permanência para Idosos) quando surgiu a oportunidade de participar do projeto Alimentando Vidas, aqui na UNAS, foi maravilhoso por que é justamente dentro da minha expertise profissional e o CDI está localizado dentro do território onde eu nasci e fui criada. Dentro do perfil das pessoas que atendemos aqui, temos várias demandas, mobilidades distintas então trabalhamos sempre em conjunto e em grupo, modificando e adaptando os exercícios para cada idoso de acordo com as possibilidades de cada um deles. As atividades das oficinas, na cozinha e também na horta, potencializa o trabalho relacionado a mobilidade, desenvolvendo a marcha, o equilíbrio e trabalhando também com os dispositivos auxiliares e todas as ferramentas utilizadas na culinária como talheres, movimentos no preparo e na colheita da horta com ferramentas e também na movimentação para a realização da atividade. Está sendo um trabalho muito bom com eles pela mobilidade, aumentando muito o nosso repertório enquanto profissional.”
Uma das bases do projeto é também promover atividades de lazer para a manutenção ativa do corpo e da mente do idoso, por meio de atividades externas com o intuito de despertar as potencialidades do idoso para aspectos criativos, sociais, compartilhando experiências, explorando a sensibilidade e as emoções, despertando a atenção dentro do aprendizado de novas habilidades, permitindo uma vida mais ativa.
O resgate das memórias afetivas acontece nas diversas etapas do processo das atividades como nas rodas de conversa, que inclui os interesses e desejos dos participantes. Essa memória é acessada também quando é realizada a prática como nos conta Virgínia Conceição Abreu, de 98 anos, que a muito tempo não manuseava a terra. “Eu sempre trabalhei na terra e participar das atividades é muito gostoso, me traz muitas lembranças. Parei por conta da minha idade, mas aqui eu retornei a fazer o que eu gosto. Eu semeava milho, batatas lá em Portugal. Cheguei no Brasil com vinte e poucos anos e nunca mais tinha tido a chance de manusear a terra, plantar, cuidar da horta e colher, mas também gosto muito de ir para cozinha.”
Melhorar a qualidade dos vínculos entre os idosos participantes, deles com a equipe do projeto e da família com os próprios idosos, também são pilares do projeto que visa trazer para dentro e para perto, todos esses grupos, que através da alimentação, conseguem essa reaproximação tão afetiva e com tantos benefícios para todos envolvidos. Para Fábio Rodrigues Martins Roseira, gestor do CDI, essa chegada do Alimento Vidas tornou-se um marco na vida dos atendidos e de toda equipe que atua no projeto. “Esse novo projeto contribuiu muito para a boa alimentação das pessoas idosos que atendemos por que a verba que a gente recebe pelo convênio com a Prefeitura é restrita. Hoje nós temos uma qualidade maior na alimentação, o novo projeto consegue suprir graças ao reaproveitamento total dos alimentos, da colheita da horta e dos pratos feitos nas oficinas da culinária que são inseridas no cardápio do dia. O projeto recebeu uma aceitação muito bacana por parte das famílias, onde através das reuniões com eles, tivemos a oportunidade de apresentar essa nova atividade e o retorno foi muito positivo pela importância que essas atividades tem para o desenvolvimento do idoso, resgatando pequenas conquistas como realizar uma receita que já não faziam mais em casa, fortalecendo inclusive a relação afetiva para toda família.”
O momento da culinária para muitos deles, tem um sabor diferente pois a forte e emocionante lembrança de cozinhar para os filhos e netos, e até mesmo, cozinhar para consumo próprio, ganha vida e se torna uma saborosa prática compartilhada com todos na oficina da culinária que concentra todos os demais processos para realização da receita escolhida. Tatiana Dias, culinarista das oficinas, sabe muito a respeito dessa relação. Confeiteira, multiplicadora de conhecimentos que passa de geração em geração, encontrou nas pessoas que participam da sua aula, a memória da sua mãe que ela cuidou até o seu falecimento, deixando claro que alimentação é afeto e memória.
“Está experiência com a melhor idade está sendo muito gratificante, estou amando ter a chance de falar para outras pessoas da alegria de ver essas pessoas com mais idade, suas habilidades e potências, tirando essa imagem da pessoa idosa mais parada. Sou confeiteira e lido com muito doce, então me desafio também na alimentação saudável que é muito pensada para longevidade. Eles estão voltando no tempo, muitos relatam das experiências da infância, dos preparos com os filhos e netos, compartilham receitas familiares e até pedem as receitas feitas aqui para levar para casa para cozinharem com a família onde a participação deles seja também uma forma de afeto e troca. A ideia é ao final do projeto fazer um livro de receitas que fizemos ao longo desses meses para darem continuidade. Eu encontro na figura deles a imagem da minha mãe, que faleceu a oito meses e que me apresentou o trabalho da UNAS e hoje, depois de passar pelo projeto Chocolateiras de Heliópolis, estou aqui, atuando no Alimentando Vidas.”
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