Hortas Pedagógicas como ferramenta de educação ambiental
- Escrito por André Silva | Editor Douglas Cavalcante
- há 2 horas
- 6 min de leitura
UNAS tem desenvolvido projeto sociais que utilizam de hortas urbanas para promover participação social e educação ambiental
O terraço do Centro de Educação Infantil — CEI Patativa do Assaré, localizado na Vila das Mercês, passou a se tornar um exemplo de sustentabilidade com a implementação de hortas pedagógicas no espaço, uma ação voltada para a educação ambiental das crianças atendidas e também da equipe do projeto. A proposta faz parte da iniciativa Educação Ambiental dos 3 aos 30, promovida pelo Centro de Estudos das Cidades - Laboratório Arq. Futuro do Insper e com o apoio da UNAS, que visa transformar espaços urbanos e proporcionar aprendizado prático sobre e através da sustentabilidade.
O desenvolvimento da horta pedagógica no CEI Patativa teve início em 2024 e representou a concretização de um sonho antigo da equipe gestora de revitalizar o terraço, trazendo à ele mais vida e promovendo o bem-estar das crianças, fazendo da horta mais do que apenas um espaço de cultivo, mas também um instrumento de educação e o fortalecimento de vínculos entre todos os envolvidos no processo.
“Tenho um grande sonho de ter um espaço, uma floresta, como eu costumo dizer, uma floresta onde traga pássaros, onde traga borboletas e eu acho que as crianças também merecem esse espaço, que elas precisam desse espaço.” compartilha Giumária Soares, diretora do CEI Patativa do Assaré. Embora o sonho tenha sido compartilhado por Giumária, toda a equipe se envolveu no processo para partilhar este desejo com as crianças. “[...] todos precisam querer, estar juntos. Então quando a gente tem algo que é bom para as crianças, é algo que a gente sabe que vai trazer um bem-estar para as crianças, acho que não tem como a equipe não se envolver.”
Durante o processo de implementação, foram realizadas formações que envolveram todos os profissionais e com temáticas essenciais para a criação do espaço e para o fortalecimento de práticas pedagógicas ambientais, como a montagem dos vasos freáticos, oficinas relacionadas às plantas comestíveis não convencionais, as PANCs, além de orientações sobre como integrar as hortas no cotidiano das crianças e a sensibilização em relação aos ciclos de plantio e colheita.
“A gente inseriu na formação dos professores alguns temas que são importantes para que o projeto tenha uma horta e, mais do que isso, para que as professoras se sintam conscientes e confortáveis para que elas próprias proponham a inserção da horta como prática pedagógica.” explica Samantha Orui, arquiteta e urbanista e pesquisadora. “Isso é muito importante para o desenvolvimento da horta, outro dia cheguei no Patativa, espontaneamente as professoras do berçário, elas mesmas, tinham montado um isopor e elas mesmas tinham semeado os alfaces.”
O desenvolvimento da horta pedagógica também aproximou a parceria com cinco Unidades Básicas de Saúde (UBS) da região por meio dos Agentes de Promoção Ambiental que estão incluídos no Programa Ambientes Verdes e Saudáveis (PAVS). No processo, os agentes precisaram passar por uma formação em educação ambiental em órgãos pedagógicos, a mesma que a equipe do projeto, para contribuir com a implementação da horta no CEI Patativa, mas também para os territórios que atendem.
A mobilização da UNAS e o apoio do Insper Cidades para a implementação de hortas pedagógicas surgiu a partir da preocupação com a insegurança alimentar que foi vivenciada por moradores de Heliópolis e das regiões do entorno durante o período pandêmico da Covid-19 e desde então ambas as instituições estreitaram laços para a realização de projetos de hortas pedagógicas nos Centros de Educação Infantil e nos Centros para Crianças e Adolescentes.
“A gente que vive no urbano acaba se acostumando e achando que tudo tem que ser cimento e não é bem assim. Procuramos o Insper como parceiro por entender que recuperar a relação com a terra acaba sendo também um ato de resistência.” explica Antônia Cleide Alves, presidenta da UNAS. “O Insper como parceiro é fundamental, porque não é só uma faculdade, mas uma referência na cidade de São Paulo. Essa parceria fortalece projetos como as hortas e mostra que conhecimento e cuidado com o território podem, e precisam, caminhar juntos.”
Os primeiros frutos desta iniciativa foram colhidos em 2023 no CEI Margarida Maria Alves, em Heliópolis, onde um espaço antes sem uso virou um canteiro de plantio de folhas medicinais e também aromáticas. A horta vertical do CEI Margarida também promoveu uma aproximação com o AMA Sacomã e com os moradores do entorno, o que prosseguiu com uma pesquisa de árvores frutíferas da vizinhança e atividades sustentáveis e pedagógicas com as famílias. A repercussão da implementação da horta pedagógica e o envolvimento tanto da equipe, quanto das crianças e do território também promoveu uma aproximação com os alunos da E.M.E.F. Luiz Gonzaga do Nascimento Jr e posteriormente no interesse do CEI Patativa.

“A horta pedagógica hoje tem esse viés educativo pensando nas crianças pequenas, ou seja, mais voltado para a educação infantil onde elas estarão vivenciando na natureza, entendendo a importância das plantas não só para o oxigênio, mas também para a alimentação e isso irá fazer com que essas crianças se tornem mais respeitosas com a natureza, que é o que a gente precisa muito.” afirma Cláudia Soares, da equipe de acompanhamento pedagógico da UNAS.
“O meu sonho é que com o passar dos anos, a UNAS seja uma referência de educação ambiental.” afirma Samantha. “De fato todos os CEI’s, cada um dentro das suas limitações, tem educação ambiental ancorada ali na primeira infância. Quando a gente fala de mudanças climáticas, a próxima luta tem a ver muito com isso, tem a ver com a gente ter coleta seletiva, ter compostagem, tem a ver com a gente ter uma cidade onde a gente não morra de calor dentro dela. Então quanto mais a criança tiver acesso à essas informações enquanto educação ambiental, melhor.”
Historicamente engajada na luta por justiça social, a UNAS passou a integrar também a pauta da sustentabilidade em 2012, com a criação do projeto Heliópolis + Sustentável. A iniciativa promoveu a formação de cinco jovens da comunidade para desenvolver ações voltadas à ecologia urbana, com foco em três áreas: recuperação de espaços públicos degradados; manejo e gestão de resíduos sólidos e também hortas e jardins verticais.
Ao longo dos últimos anos a UNAS foi aprimorando sua atuação no tema, dando início em 2023 ao projeto “Da Horta para Mesa”, uma iniciativa desenvolvida em parceria com o Governo do Estado de São Paulo, por meio do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente e com apoio da Companhia Siderúrgica Nacional e da Bayer Brasil. O projeto teve como objetivo formar agentes ambientais no território e realizou a criação de dez hortas comunitárias nos Centros de Educação Infantil, desenvolvendo todo o processo de compostagem, horta e adubo, servindo como espaço sustentável e pedagógico para as crianças, educadores, às famílias das creches e a comunidade do entorno. Em sua execução, o projeto envolveu mais de mil crianças com idades de 2 a 3 anos e 11 meses e 250 colaboradoras/es em atividades que foram pautadas na revista Da Horta para a Mesa.
Desde 2024, o projeto Raízes Sustentáveis: Cultivando o Futuro vem sendo desenvolvido pela UNAS, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, com apoio da emenda parlamentar do Deputado Estadual Luiz Cláudio Marcolino.

Atuando nos Centros para Criança e Adolescente (CCAs), o projeto tem por objetivo fortalecer a conexão de crianças e adolescentes com o meio ambiente, por meio de práticas educativas baseadas na agroecologia. As atividades envolvem todas as etapas do cultivo sustentável, do plantio de mudas ao cuidado diário com hortas. Os adolescentes podem acompanhar o crescimento de hortaliças, legumes e ervas, até a colheita e o consumo dos alimentos cultivados, sendo conscientizados sobre o reaproveitamento de resíduos orgânicos que são destinados ao minhocários (responsáveis por transformar restos de alimentos, cascas e folhas em adubos orgânicos, posteriormente utilizados nas hortas pedagógicas).
“Os projetos de horta vão muito além do cultivo de alimentos, são uma ferramenta de educação, de conscientização ambiental e de resgate cultural e, para nós, isto também é uma questão de sobrevivência.” explica Cleide. “Os efeitos estão batendo na nossa porta e quem sente primeiro são às periferias, que quase não têm árvores, não têm coleta seletiva, não tem espaço verde; então é uma coisa que a gente precisa se preocupar, procurando ações para mitigar todo esse sofrimento e essa questão ambiental”
Comentários