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Metade das famílias nas EMEIs não tem com quem deixar os filhos fora do horário de aula

  • Foto do escritor: UNAS Heliópolis
    UNAS Heliópolis
  • 16 de set.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 17 de set.

Observatório em Heliópolis aponta que 91% das famílias já vivenciaram situações em que alguém precisou se ausentar do trabalho para cuidar dos filhos


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Uma das principais preocupações das famílias de Heliópolis e das comunidades vizinhas é garantir um espaço seguro e de qualidade para que as crianças fiquem enquanto seus responsáveis trabalham. Atualmente, muitas delas, com idade entre 4 e 6 anos, estão deixando os Centros de Educação Infantil (CEIs), que funcionam das 7h às 17h, para ingressar nas Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs), que oferecem apenas atendimento em meio período.


Essa transição tem impactado fortemente a rotina das famílias, sobretudo daquelas em situação de vulnerabilidade, que não têm com quem deixar os filhos no contraturno. A escassez de vagas em creches da região agrava ainda mais o problema.


Diante da demanda crescente da comunidade, a UNAS se envolveu na mobilização, realizando reuniões e pesquisas junto aos moradores. A partir desses dados, foi feita à Secretaria Municipal de Educação a solicitação para a criação de uma unidade em período integral. E assim, em 2022, o CEI Minervino Rodrigues Ferreira, foi transformado em Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI), oferecendo atendimento integral para crianças de 0 a quase 6 anos, com pelo menos 7 horas diárias de cuidado, aprendizagem, alimentação e convivência.


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Diante dos bons resultados, a unidade passou a atender todas as crianças da primeira infância. O êxito da experiência reforçou, junto à comunidade, a necessidade de ampliar esse modelo, o que deu origem à realização da pesquisa atual.


Acreditamos que a educação integral é essencial para o desenvolvimento das crianças. Estar na escola, convivendo com colegas e professores, aprendendo e brincando, ajuda a formar crianças mais seguras, criativas e preparadas para enfrentar os desafios do futuro. Ao mesmo tempo, oferece apoio para os responsáveis que precisam trabalhar, buscar emprego ou resolver questões do dia a dia, com a tranquilidade de saber que seus filhos estão em um ambiente seguro e acolhedor.


Com este dossiê, queremos compartilhar o que aprendemos no território, escutar ainda mais vozes e seguir na luta por um Bairro Educador. Afinal, cuidar das nossas crianças é também cuidar do nosso futuro.


Em 2025, durante uma reunião com as famílias das creches conveniadas da UNAS - importante momento de troca entre responsáveis e educadores - surgiu uma pergunta: por que não retomar o projeto de reivindicar novos CEMEIs para a comunidade?


Metodologia de Pesquisa


A principal ferramenta utilizada foi um formulário online, que ficou disponível por dois meses e foi divulgado por meio do Instagram, grupos de WhatsApp, reuniões comunitárias e cartazes espalhados pela região. O formulário buscava compreender as dificuldades das famílias em relação à oferta atual de educação infantil, as necessidades de cuidado em período integral e as expectativas quanto à criação de um novo equipamento educacional no território. Ao final, recebemos 535 respostas, um número expressivo que evidencia a relevância e urgência desse tema na vida das pessoas. Também realizamos escutas presenciais com os responsáveis pelas crianças, tanto nas unidades de ensino quanto em espaços comunitários. Essas conversas trouxeram relatos importantes sobre a falta de vagas, a insegurança no contraturno escolar e a preocupação com o desenvolvimento infantil. Em geral, os moradores acreditam que o acesso à uma escola de tempo integral, onde as crianças possam aprender, brincar e conviver com outras, impacta diretamente a formação de sujeitos mais seguros, criativos e preparados para o futuro, ao mesmo tempo em que contribui para aliviar a sobrecarga enfrentada pelas famílias.


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O que é o CEMEI?

Os Centros Municipais de Educação Infantil (CEMEIs) são instituições de ensino que têm como principal objetivo promover o desenvolvimento integral de crianças de zero a seis anos incompletos. Entre seus diferenciais, destacam-se a estrutura de saúde para atendimentos emergenciais, com profissionais como enfermeiros e pronto atendimento. No entanto, o aspecto mais relevante (e especialmente necessário para o nosso território) é o atendimento em período integral, que oferece às famílias a tranquilidade de saber que suas crianças estão bem cuidadas ao longo de todo o dia. O tempo ampliado na instituição também atua como uma forma de proteção para crianças que vivenciam situações de violência, como a doméstica ou sexual. Ao permanecerem mais tempo em um ambiente seguro, acolhedor e supervisionado por profissionais atentos, essas crianças ficam menos expostas a situações de risco e vulnerabilidade.


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Por que ter CEMEIS no território é urgente?

Atualmente, mais de 83% das crianças estão matriculadas em CEIs, que atendem apenas até os 3 anos de idade. No entanto, quase 90% das famílias relatam jornadas de trabalho superiores a 6 horas diárias, e mais da metade (52,52%) não dispõe de rede de apoio para cuidar das crianças. Além disso, 91,21% das famílias já vivenciaram situações em que alguém precisou se ausentar do trabalho para cuidar dos filhos, um impacto direto na renda e na autonomia familiar, especialmente entre as mulheres. Quando questionadas sobre a possibilidade de atendimento em período integral, 98,88% afirmaram que uma CEMEI facilitaria significativamente a rotina diária. A maioria dessas famílias é composta por pessoas negras (pretas e pardas — 65,6%), historicamente mais vulneráveis às desigualdades no acesso à educação, ao trabalho e às redes de apoio. Apesar dessa demanda evidente, 57% das famílias não conhecem nenhuma CEMEI próxima de casa, e 468 respondentes (87% do total) já buscam ou demonstram interesse em vagas em tempo integral para crianças de 0 a 5 anos. A transformação de CEIs em CEMEIs não seria apenas uma solução técnica à demanda existente: trata-se de um passo fundamental para garantir o direito ao cuidado, à educação e à autonomia das famílias que mais necessitam desse tipo de equipamento.


Impacto na Vida das Pessoas

Segundo a Revista VEJA, mais de 90% dos casos de agressões contra crianças e adolescentes no Brasil ocorrem dentro de casa, envolvendo não apenas violência física, mas também psicológica. Além de sua função principal de promover o desenvolvimento infantil, os CEMEIs podem ser entendidos como espaços que afastam as crianças de situações de risco, oferecendo, ao mesmo tempo, um ambiente lúdico, seguro e acolhedor. Como mencionado anteriormente, nosso levantamento surgiu a partir da necessidade das famílias do território de contar com locais seguros para deixar seus filhos enquanto realizam suas atividades diárias. No entanto, acreditamos que essa discussão não deve se limitar apenas ao nosso olhar ou à nossa escrita. Por se tratar de um tema tão sensível, não seria suficiente apresentar apenas dados estatísticos. Por isso, a seguir, incluímos alguns relatos das famílias, ilustrando como a implementação de novas CEMEIs poderia transformar positivamente a vida dessas crianças e de seus responsáveis.


Nossas Propostas

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, existem atualmente apenas 31 CEMEIs no município de São Paulo, um número significativamente baixo diante das situações de vulnerabilidade presentes em territórios periféricos, como Heliópolis e outras regiões. Além disso, não há nenhuma unidade próxima à área do Fundão do Ipiranga. Sabe-se que algumas CEIs e EMEIs da região possuem a estrutura necessária para serem transformadas em CEMEIs, oferecendo, assim, atendimento em período integral. Em nossa pesquisa, as famílias destacaram a CEMEI como um ambiente seguro e de confiança, ressaltando seus diferenciais, tais como a presença de enfermeiros, a NOSSAS PROPOSTAS continuidade pedagógica que favorece maior autonomia das crianças, refeições adicionais e, principalmente, o ensino em período integral (das 7h às 17h). A expansão de vagas em CEMEIs no território beneficiaria, sobretudo, mulheres trabalhadoras, muitas delas mães solo, que, diante da ausência de uma rede de apoio, necessitam de espaços seguros para deixar seus filhos enquanto cumprem suas atividades profissionais. Com base nos dados coletados, desenvolvemos uma série de propostas voltadas à ampliação e fortalecimento do modelo de CEMEI no território:


  1. Oferecer às comunidades e famílias a possibilidade de transformar as CEIs habilitadas em CEMEIs, de forma participativa e alinhada às normas vigentes, para que a decisão final seja fruto de escolha consciente do território; 


  2. Tornar as informações sobre os CEMEIs mais acessíveis para famílias e comunidades; 


  3. Disseminar informações sobre a política de CEMEIs para outros territórios do município de São Paulo; 


  4. Garantir, além das CEMEIs, educação integral de qualidade para todas as faixas etárias, fortalecendo o conceito de Bairro Educador por meio de equipamentos de excelência.


O Observatório De Olho Na Quebrada é resultado de um projeto idealizado e executada desde 2018 pela UNAS Heliópolis e Região, que conta hoje com o apoio da War Child, Forum CIV e da Open Society Foundations.


 
 
 

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