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SESC Ipiranga produz painel em homenagem a favela de Heliópolis

  • Escrito por Marcela Muniz | Editor Douglas Cavalcante
  • há 5 horas
  • 5 min de leitura

Pintura realizada pela artista Soberana Ziza celebra as mulheres e a história da Maior Favela de São Paulo


Com mais de 50 anos de história, a favela de Heliópolis foi estabelecida a partir de diversos pilares. No entanto, a mobilização comunitária foi o principal deles. Na década de 70, a organização e a luta coletiva das primeiras famílias instaladas no local foram essenciais para a garantia de direitos. Durante este processo, inúmeros momentos e lideranças marcaram uma trajetória de resistência.


Diante deste contexto, o SESC (Serviço Social do Comércio) Ipiranga e a multiartista Soberana Ziza desenvolveram, em conjunto com a UNAS, um mural que celebra a memória da maior favela de São Paulo. No último mês, a obra “Heliópolis: Presença e Permanência” esteve disponível para visitação na unidade localizada na Rua Bom Pastor, homenageando figuras importantes para a formação deste território. 


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O processo de produção da arte


Para Ziza, artista periférica que une história, ancestralidade e arte contemporânea em seus trabalhos, “Heliópolis é, sem dúvida, um marco de resistência, transformação social e cultural em São Paulo”. Por isso, para a produção da pintura que seria exposta, a artista contou com a contribuição de Douglas Cavalcante, coordenador do departamento de comunicação da UNAS, que compartilhou informações relevantes sobre o período de desenvolvimento da favela em um processo de escuta e pesquisa ativa.


“Fomos procurados pela equipe do SESC Ipiranga e pela artista Soberana Ziza na perspectiva de criar um painel em homenagem a Heliópolis. A partir disso, recebi elas em nossa sede para uma visita à comunidade, onde pudemos bater um papo inicial”, relatou Douglas. Ele ainda refletiu sobre a receptividade das pessoas envolvidas no processo para conhecer o histórico em sua essência: “Todo o processo foi muito massa, porque houve muita escuta atenta e sensibilidade em olhar para história do território como um todo”. Outro elemento essencial para a construção da arte que seria exposta no painel foi o acervo da UNAS, disponível no Museu Digital Heliópolis, composto por registros de momentos marcantes para a formação da comunidade.

 

 

Gabriela Xabay, animadora cultural no SESC Ipiranga, também esteve envolvida na concepção da pintura exposta no mural e apontou: “A proposta do mural nasceu de uma pesquisa prévia sobre a formação da comunidade de Heliópolis.”


“Foi uma construção coletiva. Para trazer fragmentos da história de Heliópolis para dentro da unidade, tive a honra de conhecer de perto a organização que formou este território e que é referência de transformação comunitária”, compartilhou Ziza. A artista também comentou sobre a relevância de visitar o território pessoalmente para poder desenvolver a pintura: “Para mim, foi uma experiência muito significativa. Compreender o surgimento de Heliópolis foi como vivenciar uma verdadeira aula de ação coletiva organizada. Ali fica evidente que as iniciativas no território são contínuas e transformam profundamente sua evolução.” 


O protagonismo feminino na luta por direitos

 

Durante o processo de estudo da comunidade, Gabriela identificou que, além da criação de iniciativas coletivas voltadas ao bem comum e à garantia de direitos aos moradores, “Heliópolis contou com uma presença significativa de mulheres em sua construção e consolidação”. Visto que Ziza produz arte também com o objetivo de reivindicar a centralidade feminina nas narrativas, a história do território se tornou o cenário perfeito para a homenagem. A trajetória da maior favela de São Paulo é composta por centenas de mulheres, principalmente em momentos marcantes de liderança e resistência comunitárias.


“Ao mergulhar nas histórias da formação de Heliópolis e da UNAS, é impossível não perceber que as mulheres ocupam um lugar central nesse processo. Meu trabalho sempre carrega essa marca: iniciar a narrativa por uma mulher e encerrá-la com outra”, expressou a artista. A partir desta perspectiva, foram selecionadas duas figuras femininas que pudessem representar a trajetória das mulheres da comunidade: Genésia e Maria Antônia.


Genésia Ferreira da Silva Miranda é paraibana, mãe de três filhos. Chegou em Heliópolis no início dos anos 80 e esteve à frente de inúmeras lutas pela garantia de direitos no local. Ela se consolidou como uma das principais lideranças durante a formação do território ao organizar dezenas de mulheres da comunidade, inclusive Cleide (atual presidenta da UNAS), a favor da discussão sobre os seus direitos.


Genesia Miranda com a camiseta da UNAS retratada no painel em homenagem à Heliópolis
Genesia Miranda com a camiseta da UNAS retratada no painel em homenagem à Heliópolis

“A luta era necessária pelas famílias que viviam em Heliópolis. Nos anos 80, o essencial era ter coragem para mobilizar as mulheres, que depois convenciam seus maridos a se unir em torno do mesmo objetivo”, apontou Genésia.


“Desde que eu nasci, a minha mãe já estava na luta”, lembra João da Silva, segundo filho de Genésia. “Eu fiquei emocionado em ver a homenagem. É um orgulho pela figura que ela representa para a comunidade, mas também por ser homenageada entre tantas mulheres que também contribuíram para essa história.”


Maria Antônia Fulgêncio é moradora de Heliópolis desde a década de 80 e militante da luta antirrascista no Brasil. Esteve presente no ato histórico em 1978, do Movimento Negro Unificado, no Teatro Municipal de São Paulo. Foi uma das primeiras conselheiras tutelares eleitas pela UNAS na comunidade, e ao longo de sua trajetória na organização, coordenou projetos sociais em diferentes frentes.


Maria Antônia retratada no painel em homenagem à Heliópolis
Maria Antônia retratada no painel em homenagem à Heliópolis

Ziza compartilhou sobre a escolha das mulheres para expor no mural: “Foi difícil escolher apenas duas entre tantas referências potentes. Representar Genésia Miranda e Maria Antônia Fulgêncio foi uma escolha política e afetiva. Elas simbolizam a força de uma resistência feminina que abriu caminhos para a transformação em Heliópolis.”

 

“É muito simbólico ocupar esse espaço”


Comunidades periféricas são cada vez mais marginalizadas e segmentadas da sociedade. Há diversos estereótipos sobre a população que vive nesses territórios diariamente que os impede de circular livremente entre a cidade, e desfrutar de seus direitos. Além de desempenhar a função de comunicador social diariamente na UNAS, Douglas também vive em Heliópolis. Para ele, “é muito simbólico ocupar esse espaço no SESC, homenageando a maior favela do estado de São Paulo, principalmente pelo local em que a unidade está localizada”.


Caracterizado pela sua importância histórica, o Ipiranga é um dos bairros mais tradicionais da cidade, contando com infraestrutura urbana de qualidade. O IPVS (Índice Paulista de Vulnerabilidade Social), em sua pesquisa mais recente (2010), identificou que a renda domiciliar per capita no distrito do Ipiranga é de R$ 1.898,75, enquanto no Sacomã (distrito onde está localizada a favela de Heliópolis) é de R$ 423,53. O contraste é evidente, visto que a renda dos moradores do bairro é quase cinco vezes maior que na periferia.


Douglas manifestou o sentimento de ocupar o ambiente enquanto periferia: “Estarmos representados em painel no meio do Ipiranga, é muito significativo, mostra que fazemos parte desse bairro. A favela quer ser parte da cidade também.”


Para Genésia, a importância de reforçar a memória de Heliópolis nesses espaços está no fato de que “a luta não para”. “Devemos ser reconhecidos como cidadãos brasileiros com o direito de estudar e realizar os nossos sonhos. Por isso, parcerias como a da UNAS com o SESC são fundamentais  especialmente para a nova geração da nossa comunidade.”


“A arte tem esse papel de quebrar essas paredes. Por meio deste mural, é possível tocar as pessoas e quebrar um pouco do estereótipo que existe e que tenta nos separar do resto da cidade”, completou Douglas.


 
 
 
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