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Pesquisadores de Heliópolis lançam livro sobre renda digna na maior favela de SP

  • Escrito por Marcela Muniz | Editor Douglas Cavalcante
  • há 5 dias
  • 5 min de leitura

“A dignidade vai para além do critério de ‘quanto você recebe?’” cita pesquisador em estudo que aborda as necessidades para um padrão de vida digno em Heliópolis


Na maior favela de São Paulo, onde a vulnerabilidade social é considerada entre média e muito alta (de acordo com a Fundação Seade), a busca por sobrevivência e dignidade compõe diariamente a rotina dos mais de 200 mil moradores do território. A fim de traduzir essa realidade e responder à pergunta: O que os moradores de Heliópolis pensam ser necessário  para que se tenha um padrão de vida digno na favela?, a UNAS idealizou a pesquisa Renda Digna em Heliópolis. O estudo foi realizado ao longo de seis meses no território, dando origem à um livro que reúne os dados e depoimentos coletados.


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Reginaldo Gonçalves, 48, coordenador de projetos na UNAS relata que a ideia para a realização da pesquisa surgiu após uma das visitas do Deputado Estadual Eduardo Suplicy à instituição: “Já acompanhávamos o Suplicy no processo de implementação de uma política pública que promova a renda básica para a população e, após apresentarmos o Observatório De Olho na Quebrada [projeto formado por jovens pesquisadores], foi construída uma relação com ele. Passamos a estudar o conceito e as ideias propostas por ele e surgiu a oportunidade de realizarmos uma pesquisa sobre o assunto aqui no território”.


A Renda Básica de Cidadania é uma ideia proposta por Eduardo Suplicy que visa a garantia de dignidade mínima para todo e qualquer cidadão, independente de circunstâncias econômicas, concretizada a partir da Lei nº 10.835. Sancionada em 2004, ela propõe um pagamento mensal a todos os brasileiros, a fim de garantir uma renda básica, apesar de ainda não contemplar de forma plena o conceito. “Temos diversas experiências de renda básica em muitas partes do  Brasil, mas pela organização política e participativa, sobretudo o amplo interesse dos mais jovens, Heliópolis desponta como possível lugar de referência para uma bem-sucedida experiência de renda básica inédita no município e no estado de São Paulo”, apontou Suplicy sobre a relevância da favela de Heliópolis como cenário para a pesquisa, viabilizada por meio de emenda parlamentar do Deputado.


Beatriz Sobrinho, 23, é pesquisadora em Heliópolis há dois anos e integrou a equipe de pesquisadores do estudo Renda Digna, acompanhando todas as etapas. “O principal objetivo era entender a diferença entre o que seria digno para uma pessoa viver em Heliópolis, com qualidade de vida, e o que de fato acontece”, compartilhou Beatriz. Para compreender a realidade do território, o estudo foi constituído por um processo segmentado em etapas. Inicialmente, a equipe foi convidada a se reunir com um grupo de pesquisadores da PUC-SP, que também os auxiliou posteriormente durante a coleta e análise dos dados. Antes ir à campo, os jovens estudaram a Renda Básica de Cidadania e o livro “Rendimento Adequado em Portugal” escrito por José António Correia Pereirinha, referências utilizadas para o estudo em Heliópolis, além de desenvolver as perguntas que iriam compor o questionário, aplicado no território durante três meses, online e presencialmente (“porta a porta”).


A pesquisadora destacou que uma das dificuldades enfrentadas pelo grupo de jovens para coletar os dados esteve relacionada com a receptividade nas ruas: “Os moradores têm receio de expor a vida deles e as dificuldades, sofrer algum tipo de preconceito ou de ser algo do governo. Esse receio de falar conosco [pesquisadores] dificultou o processo de coletar os dados”. Além disso, Moroni Henrique, 23, também pesquisador do Renda Digna, apontou que “o tamanho de Heliópolis” foi um dos impasses principais para o estudo, ponto também relatado por Beatriz. “É um território subdimensionado, mesmo quando parece ser superestimado. Não somente em espaço, mas em quantidade de pessoas”, completou o pesquisador. 


Moroni explicou que a questão climática de Heliópolis também impactou o período de pesquisa em campo: “O calor extremo desgastava muito a equipe, então houveram dias em que não conseguíamos trabalhar direito; nós íamos para as ruas fazer o máximo de entrevistas possíveis e ficávamos exaustos, porque o sol era muito intenso. Ao mesmo tempo, as chuvas e às vezes tempestades nos obrigavam a paralisar o trabalho”. O relato do jovem pesquisador reforça a influência dos extremos climáticos na rotina da maior favela de São Paulo, que acomete os moradores e também impacta na dignidade concreta, principalmente de um território periférico.


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Nos momentos de pesquisa “porta a porta”, quando os jovens se locomoviam às ruas e casas de Heliópolis, a equipe juntou uma série de relatos essenciais para a percepção da realidade e do que os moradores acreditavam ser necessário para a sua dignidade. “Nos surpreendemos com as respostas para a pergunta ‘qual salário você acredita ser ideal para ter uma vida digna em Heliópolis?’. Muitas pessoas respondiam valores baixos, 2 mil reais, que na verdade não são capazes de trazer uma dignidade; provavelmente beira o suficiente pra sobreviver: sustentar uma casa e se alimentar, mas não contempla todo o resto, como saúde, educação, lazer. Nos impressionamos como as pessoas aqui na favela vêem isso como digno”, refletiu Beatriz, ressaltando como o estudo examina a diferença entre dignidade e sobrevivência no cenário atual da periferia. 


A pesquisa explorou diversos elementos que poderiam ser necessários para a garantia de uma vida digna em Heliópolis, inclusive os sonhos dos moradores, através da pergunta “Qual é o seu sonho?” que compôs o questionário. “Apesar de Heliópolis ser uma favela marcada pela luta pela moradia, pudemos perceber que o sonho de muitas pessoas ainda é comprar uma casa, demonstrando que essa luta está viva, mesmo que tenha se transformado”, abordou Moroni. O Renda Digna também levantou dados sobre a quantidade de casas alugadas em Heliópolis: “É muito relevante pois vemos que as pessoas que moram de aluguel são as pessoas que estão nas situações mais vulneráveis, e têm uma relação intrínseca com a fome”, complementou o pesquisador.


Deputado Estadual, Eduardo Suplicy com seu exemplar do Livro Renda Digna em Heliópolis
Deputado Estadual, Eduardo Suplicy com seu exemplar do Livro Renda Digna em Heliópolis

Para Suplicy, “os dados obtidos [através do Renda Digna] mostram que, apesar da luta aguerrida da população de Heliópolis, a pobreza - como elemento estrutural - ainda está presente e é geradora das desigualdades que limitam o desenvolvimento humano de seus moradores”. Dessa forma, a pesquisa reforça como a garantia de uma renda digna pode ampliar as oportunidades e os acessos de pessoas periféricas ao que é de fato importante, como estudos, lazer, etc. Moroni relatou que, para ele, um momento marcante do estudo foi quando entrevistou um senhor cujo sonho era terminar os estudos que, por diversos motivos ao longo de sua vida, não pôde completar. “A dignidade vai para além do critério de ‘quanto você recebe [salário]?’, o acesso à educação também é uma das formas de acesso à dignidade”


Moroni Henrique, um dos pesquisadores do estudo em lançamento do livro durante o Seminário Heliópolis Bairro Educador | Foto: Cindy Tavares
Moroni Henrique, um dos pesquisadores do estudo em lançamento do livro durante o Seminário Heliópolis Bairro Educador | Foto: Cindy Tavares

A partir do estudo, os jovens que participaram da pesquisa elaboraram um livro que aborda e discute os dados obtidos, com lançamento realizado na abertura do 16º Seminário Heliópolis Bairro Educador, na última sexta-feira (19).  Escrito por jovens periféricos, o livro representa um avanço importante, tanto para a promoção da Renda Básica de Cidadania, quanto para a favela de Heliópolis. “Debates como o da renda básica não costumam chegar nas comunidades, então ter um livro escrito por jovens da favela para as pessoas da favela é muito importante para levantar essa pauta. Além disso, também é uma oportunidade para ocuparmos outros espaços, compartilhou Beatriz. 




Idealização e Execução: UNAS Heliópolis e Região | Observatório De Olho Na Quebrada

Apoio: Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre Seguridade e Assistência Social (NEPSAS) da PUC-SP

Realização: Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania | Emenda Parlamentar Deputado Eduardo Suplicy


 
 
 

1 comentário


Serviço Social
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há 5 dias

Oi pessoal da UNAS, Parabéns!!! Você poderiam disponibilizar um livro para o Instituto Baccarelli para o nosso Cantinho da leitura?

Um grande abraço!

Departamento de Serviço Social - Instituto Baccarelli

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