Projeto da UNAS lança cartilha de prevenção à violência com ações do Setembro Amarelo
- Escrito por Marcela Muniz | Editor Douglas Cavalcante
- há 7 dias
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Cartilhas produzidas pelo projeto orientam crianças e adolescentes sobre pedir ajuda, identificar pessoas de confianças e acessar serviços de apoio
O Setembro Amarelo é uma importante campanha que, desde 2015, é promovida nacionalmente visando a valorização da vida. Durante todo o mês, a iniciativa tem como objetivo impulsionar o debate sobre a importância do cuidado quanto à saúde mental. Em diálogo com a campanha, o projeto Violência Aqui Não Entra Não!, também conhecido como VANEN, tem realizado atividades em quatro CCAs (Centros para Crianças e Adolescentes) localizados nas favelas do entorno de Heliópolis.
O VANEN, projeto idealizado pela UNAS com apoio da Kindernothilfe, trabalha há cerca de 10 anos com a prevenção de violências contra crianças e adolescentes, além da reparação e ressignificação dos traumas gerados nas vítimas como consequência de violências sofridas. Para somar com o Setembro Amarelo, a equipe do projeto aplicou atividades nas turmas dos CCAs gerenciados pela UNAS no Fundão do Ipiranga, relacionando a campanha nacional com o trabalho realizado pelo projeto.

Uma das atividades que o VANEN propôs para as crianças e os adolescentes envolveu uma roda de conversa, depois de uma sessão da animação Monstros S.A. (2001) da Disney Pixar. O longa-metragem aborda uma cidade habitada por monstros, em que a sua energia é mantida por uma fábrica de gritos provocados por sustos em crianças. A animação é concluída quando os monstros passam a gerar energia a partir de risos, após demonstrarem insatisfação com a configuração original da cidade.
Amanda Dorneles, 30, é psicóloga no projeto e comentou sobre a escolha do filme para a proposta da atividade: “O filme mostra uma cidade que se alimenta do medo das crianças e que, no final, quando o medo é substituído pela alegria, essa cidade se torna mais potente. As crianças puderam refletir a partir desse enredo que, embora elas tenham situações de perigo, quando a sua relação com os adultos (representadas no filme pelos monstros) é saudável, ela se torna mais protetiva, como a cidade.”
Na roda de conversa, além de debater como o filme se relaciona com as relações pessoais e a realidade dos atendidos no CCA, a equipe também apresentou um material didático produzido pelo projeto: “Desenvolvemos uma cartilha chamada ‘Todo Mundo Tem Alguém’, que reforça a ideia de ter uma ou mais pessoas de referência, para não passar por determinadas situações sozinhos. Passamos para as crianças e os adolescentes as mensagens de que é importante sempre pedir ajuda e que sempre haverá alguém para apoiá-las e passar por momentos difíceis junto”, relatou Amanda.
A psicóloga também relacionou a animação da Disney com a cartilha: “Essa ideia também está representada no filme, visto que a Boo está numa cidade que a todo momento provoca uma angústia nela, e o Sullivan se torna alguém de referência que ela se sente segura para enfrentar aquele medo. Nas atividades da cartilha, eles [crianças e adolescentes dos CCAs] poderão refletir e identificar: ‘quem é a pessoa que me escuta, no CCA, na escola, na família, na vizinhança?’”.
“Na cartilha também incluímos os equipamentos de rede de proteção existentes dentro dos quatro territórios [Favela do Boqueirão, Jardim São Savério, Água Funda e Jardim Maristela], com o endereço, número de telefone e os nomes dos espaços, como UBSs, CAPS, AMAs, etc.”, completou Mariana de Oliveira, 36, também psicóloga do projeto.
Em complementação, o projeto também desenvolveu a cartilha “Tons de Amarelo”, entregue para os educandos dos quatro CCAs. O material foi produzido a partir de relatos de bullying coletados em oficinas no Setembro Amarelo em 2024, com o objetivo de minimizar os impactos das violências enfrentadas, através de atividades relaxantes e informações sobre rede de proteção e práticas para autorregulação.
Mariana compartilhou sobre a relevância de tornar mais leve o contato dos atendidos com as cartilhas, embora tratem sobre prevenção de violência ou reparação de traumas: “Pensamos em inserir atividades nas cartilhas para eles se distraírem, incentivando-os a se conectar com outras coisas além das telas e diminuir um pouco a ansiedade, com desenhos para pintura, momentos de escrita, e outros elementos. É importante pois assim eles podem se conectar consigo mesmo e ter momentos de reflexão.”
“Falar sobre violência é falar também de saúde mental”
O trabalho realizado pelo Violência Aqui Não Entra Não! é reforçado em campanhas como o Setembro Amarelo ao tratar das violências sofridas pelas crianças em todo o território, que ocasionam a necessidade de atendimento psicológico. “Para falar sobre terapia no Setembro Amarelo, é preciso pensar em condição humana, vulnerabilidade, território, família; elementos que estão conectados com a prevenção de uma violência que pode causar uma doença e, infelizmente, avançar até o último recurso [tirar a própria vida]”, refletiu Amanda.
Mariana também comentou sobre a necessidade de falar sobre prevenção à violência para além de setembro, quando ocorre a campanha: “É um mês importante de visibilidade, mas trabalhamos com a saúde mental o ano todo a partir da prevenção. Enquanto o projeto aborda essa questão, dialogamos com as famílias sobre o quanto a conexão da rede com a comunidade é importante para elucidar a proteção à saúde mental e os direitos das pessoas.”
Clique abaixo e realize o download das cartilhas