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  • Escrito por Gustavo Pinto | Edição Douglas Cavalcante

É preciso efetivar uma educação antirracista

No Brasil, que é um país racista, os espaços educacionais precisam de uma educação antirracista, na UNAS os projetos sociais são espaços que tratam do assunto diariamente, incentivando as crianças e adolescentes a terem consciência de seus corpos na sociedade, empoderando e ensinando que não tem nada de errado em ser negro.


O Brasil precisa assumir que é um país racista e dizer quais ações reparativas ele está fazendo para melhorar esse quadro. Quando pensamos na história de nosso país devemos relembrar que a história não aconteceu como foi contada e apenas alguns até hoje se preocupam em entender que os livros didáticos realmente não contam o que se passou de fato, a história de um genocídio e uma séries de outras atrocidades, foram 388 anos de um sistema escravagista, sendo um dos últimos a “abolir” esse sistema, hoje sem sombra de dúvida podemos afirmar que o Brasil não foi descoberto foi invadido e a população preta não chegou aqui por que quis, mas sim porque foram sequestrados.


Quando se é admitido o que realmente aconteceu podemos perceber que ainda hoje, em 2023, o país continua a sofrer diversos resquícios de sua colonização, aliás historicamente os países que foram colonizados tendem a terem problemas vindos desse período, chamado de “descoberta”, mas como hoje podemos descolonizar essa história? Com a educação antirracista! Trabalhar com o tema é diversas vezes delicado, já que em diversas situações para muitos “brancos” o tema chega de forma atravessada por falta de uma conscientização, ou melhor, uma educação antirracista, que é na prática a valorização da identidade e da trajetória dos diferentes povos que formam um país e no sentimento de pertencimento dos negros na escola, é necessário pautar o tema racial, até porque em todos os âmbitos da vida a questão racial é transpassada, um corpo negro mesmo parado já provoca uma leitura na sociedade.


Nós fomos educados para sermos racistas, uma parte da nossa população foi educada olhando para o povo preto e indígena com vergonha, esses povos terem orgulho de ser é um ganho, anos atrás essa população se afirmava como pardo ou mulato, estamos caminhando, mas aos poucos desvencilhando adjetivos racistas dessa população, termos como: ovelha negra, lista negra, livro preto, denegrir, mulata, beleza exótica, da cor do pecado são terminologias que difamam a raça negra, muitas vezes caluniam um ser humano pela suas características físicas.

As coisas tendem a melhorar com muita vagareza sobre o assunto, a história não é um modelo melhor hoje, é uma repetição de atitudes do passado mas que continuam acontecendo, a educação antirracista precisa entrar para o currículo escolar de forma efetiva e não somente com diretrizes, a implementação da Lei 10.639 precisa acontecer de fato. Um corpo negro em uma sociedade racista é lido de diversas formas errôneas “um filho de uma amiga vai até a padaria com seu RG, tem que ficar alerta o tempo todo, se um menino preto está parado já é um questionamento, se ele está correndo então há mais ainda” contou Penelope que é Coordenadora pedagógica do CEI Euridíce Ferreira de Melo.


Quando pensamos em crianças e adolescentes, a primeira referência que eles têm é alguém de sua família, conforme vão crescendo outras vão surgindo fora de casa, mas hoje existe a internet, a preocupação agora é o que as crianças consomem na internet? Quem os influencia nesse espaço? Nós na UNAS temos procurado desmistificar bastante tratando as pautas raciais não só em um único período, já que vivemos e enfrentamos o racismo diariamente, é pensado em atividades que é possível incluir no cotidiano das crianças. Estamos falando que o racismo não pode ser discutido somente em Novembro, trabalhar essa questão tem que ser no nosso cotidiano.

“A gente avança quando traz a cultura afro para dentro da sala de aula porque somos descendentes desse povo, trazemos escritores negros, a inserção de pessoas negras no mercado de trabalho, trabalhamos o sistema de cotas para que eles tenham ciência que é possível sim chegar na universidade” afirmou Eva, Coordenadora pedagógica do CCA Mina que fez um museu com imagens de pessoas negras que influenciam seus alunos, e acreditem eles têm muitas referências já que hoje com a era da internet é necessário entender quem influência esses jovens, o que eles consomem? Isso e outras questões precisam ser uma preocupação também dos educadores, para que o consumo da internet possa agregar na vida deles e não ser mais um espaço para sofrer com o preconceito, “o nosso papel de educador é apresentar outras referências que irão agregar na vida deles, gente parecida com eles que vão agregar pra eles” disse Eva.

Quando é preparado um canto da beleza para as crianças é necessário pensar nas crianças pretas, não é saudável a criança crescer sem ser exaltada, os cabelos não são “ruins”, são crespos ou cacheados e temos que ver isso, as professoras têm que aprender a cuidar desses tipos de cabelo também. A educação antirracista são atos de apoio e reconhecimento desses corpos, é a não exclusão da vida dessas pessoas.


Diversas famílias que temos no Brasil como os Souza ou os Silva, na verdade carregam esse “sobrenome” provavelmente porque era o nome do dono do engenho que ali naquele local onde tinha pessoas escravizadas foi passado seu nome para que todos soubessem quem era o seu “dono”, essa é a história do Brasil, é isso que os educandos precisam aprender de verdade, conhecer de fato de onde vem seu sobrenome, suas origens, sua ancestralidade. “A cultura afro é uma cultura que é passada oralmente, é uma sabedoria que pode e deve ser mantida viva, descolonizar é educar minha ação, mas dependendo da abordagem isso pode ser lido como agressivo e precisamos ensinar nossos educandos como se defender, sabendo que a educação é a melhor arma para que isso ocorra onde não poderão ser associados a agressividade, e também ensiná-los o que os seus corpos reproduzem nas mais diversas situações” relatou Penelope ao relembrar de como essa educação pode ser cada vez mais efetiva.

A UNAS além de ter esse compromisso na educação para com suas crianças e adolescentes atendidas tem também seu movimento negro, que nasce em 2007 fruto de lutas e indagações dos seus territórios, das suas comunidades, pensando sempre na criação de ações para intervir nessa sociedade racista, como formas de sobrevivência e disseminação dessa educação antirracista, “a sociedade e principalmente os negacionistas tem que reconhecer o que fazem, não vai adiantar ir contra eles se a sociedade não admitir que é racista, e é obrigação do nosso país que as conquistas cheguem para a população preta. Essas pessoas têm que estar nas tomadas de decisão, é um tempo que não dá mais para deixar que quem não é preto dite como serão nossas vidas” indagou Maria Antônia Coordenadora do CEI Frei Sérgio Calixto Val Verde e uma das fundadoras do Movimento Negro de Heliópolis e Região que com muita resistência e diversidade faz suas plenárias sempre aos segundos sábados do mês no Jd. São Savério, salvo somente neste mês da Consciência Negra que será realizado um ato politico-cultural no Dia 21 às 18hs na Quadra da UNAS em Heliópolis.


Não podemos sair desse texto sem se questionar qual a nossa parte nesse sistema racista que tem uma manutenção diária quando jovens são presos ou mulheres são fetichizadas, é preciso que aconteça mais debates, rodas de conversas já que são uma maneira dessa população estar mais junta, é necessário que a educação antirracista ou descolonizada chegue para todos, o racismo é um problema de todos!


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