Não são apenas números, são vidas!
Sacomã, Cursinho e Ipiranga ultrapassam os 50 mil casos de Covid-19
Foi numa quinta-feira, dia 12 de Março de 2020, que o Brasil registrou o seu primeiro óbito pela COVID-19, uma paulistana, diarista, mãe, esposa e filha. Alguns dias depois, na segunda-feira seguinte, no dia 16 de março, sua mãe também faleceu em decorrência da COVID-19, naquele momento o país tinha pouco mais de 300 casos registrados oficialmente e seus primeiros, de inumeráveis, óbitos. Quase 100 dias depois, em 19 de Junho de 2020, o Brasil atingia a marca assustadora de QUARENTENA E NOVE MIL vidas perdidas para a pandemia, uma média de 490 novas mortes por dia, 20 a cada hora.
Pouco mais de um ano depois e o abismo da Covid-19 ainda é fundo, despedaçando famílias, interrompendo sonhos e amores, uma esperança de gosto amargo e mais de QUINHENTAS E CINQUENTA MIL vidas perdidas, cada um com nome, com uma história e com um futuro interrompido, amor de alguém que se tornou saudade, fruto de uma memória distante.
Foram 305.851 (61%) mortes apenas este ano até 19 de Junho de 2021, isso é quase 1.800 mortes perdidas a cada dia. O mês de Abril de 2021 foi o mais letal desde o começo da pandemia, morreram 79.671 pessoas em decorrência das complicações com a Covid, pessoas que morreram, mas que poderiam ter sobrevivido, pois já há vacina!
Vidas essas, que não estão longe de casa. Nossos familiares, amigos, vizinhos e colegas, pessoas que encontrávamos no mercado da região, no postinho, na praça ou na esquina, 1.730 vidas interrompidas aqui perto da gente. O distrito do Sacomã, onde fica Heliópolis, foi um dos mais impactados pela pandemia na cidade de São Paulo, de um lado óbitos e casos e mais casos de Covid-19, do outro, o desemprego e a fome.
Até o mês de Junho de 2021, o Sacomã tinha 844 óbitos por COVID-19 e 28.857 mil casos confirmados, sendo mais impactado do que o Ipiranga, que tem 450 óbitos e 11.144 casos. Outro dado da região corresponde a Cursino, com 436 óbitos e 10.313 casos, totalizando 50.314 casos confirmados por COVID-19 e 1.730 vítimas fatais da doença.
Os impactos da pandemia na vida dos moradores de Heliópolis, a maior favela de São Paulo, também atingiram a renda e a mesa de cada residência, é o que aponta a pesquisa do Observatório De Olho na Quebrada realizada em março de 2020, constando que 68% da população tiveram impacto na renda ainda no começo da pandemia, sem trabalho e nenhum subsídio por parte do governo. Com o avanço da doença na comunidade, muitas famílias, principalmente as de menor renda, encontram dificuldade em deixar de trabalhar e manter o isolamento social. No começo da pandemia, 59% das famílias com renda mensal de até dois salários mínimos não estavam trabalhando, esse número cai para 52% se considerarmos as famílias que sobrevivem com menos do que um salário mínimo, reforçando que quanto menor a renda, maior é o impacto.
Na pesquisa sobre Saúde Alimentar na Pandemia, realizada no mês de Abril de 2020, a situação epidemiológica castigava as famílias de Heliópolis, desesperada por alguma ajuda, como o Auxílio Emergencial do Governo Federal, solicitado por 83% dos entrevistados, mas apenas 32% tiveram o pedido aprovado. Sem renda, apenas 58% das famílias de Heliópolis faziam as três refeições diárias, 42% tinham que abrir mão de pelo menos uma das refeições.
O abismo da COVID-19 em Heliópolis atingiu os moradores de uma maneira ou de outra, fosse um caso positivo ou uma perda na família, a demissão ou o impacto na renda, na mesa ou até mesmo na saúde mental que atingiu 86% dos entrevistados que relataram se sentirem deprimidos, causados pela perda de alguém próximo, medo de sair de casa, incerteza de comida na mesa e entre outros fatores.