15ª Caminhada pela Paz da Região destaca a luta por educação de qualidade na periferia
- Escrito por Isabela do Carmo | Editor Douglas Cavalcante
- 2 de jun.
- 5 min de leitura
A ação mobilizou estudantes, professores, lideranças comunitárias e moradores dos bairros do Fundão do Ipiranga
Com o tema “O poder da educação transforma: construindo a paz com palavras e ações”, a 15ª edição da Caminhada pela Paz do Jd. São Savério, Parque Bristol e Região, movimentou, no último sábado (31), o Fundão do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. A ação, promovida pelos projetos sociais da UNAS em parceria com equipamentos públicos da capital, teve como premissa disseminar a cultura de paz e reivindicar melhorias nos espaços socioculturais e educacionais da comunidade local.
A iniciativa está alinhada aos princípios do conceito de Bairro Educador - promovido pela UNAS - que valoriza o território como espaço de aprendizagem, convivência e transformação social. Presente há mais de uma década na região, a Caminhada pela Paz tornou-se um marco simbólico no calendário da organização, reafirmando, a cada edição, a necessidade de mais investimentos em educação, saúde, cultura e qualidade de vida para a população.
A concentração teve início por volta das 10h, na Rua Memorial de Aires, ponto de partida para a caminhada. Estudantes, professores, lideranças comunitárias e moradores se uniram e percorreram, ao longo de cerca de duas horas, diversas vias da região. O percurso foi finalizado no CEI Sítio Caraguatá, onde as atividades foram encerradas em clima de mobilização e pertencimento.

Segundo Michele de Oliveira, 33 anos, moradora do Jardim São Savério, a caminhada representa uma importante forma de reivindicação, especialmente diante da falta de políticas públicas voltadas para crianças e jovens na região do Fundão do Ipiranga.
“Aqui não tem quase nada para eles [jovens], a não ser os CCAs [Centro para Criança e Adolescente]. Só tem as ruas, e nelas as crianças ficam muito expostas a tudo, muito vulneráveis. E elas não precisam só de um prato de comida para sobreviver, mas de estudo, lazer, educação de qualidade e espaços onde possam se desenvolver. Essa é a nossa luta”, afirma.

Para Patrícia Souza, 52 anos, gestora do CEI Jardim Clímax, a edição deste ano da Caminhada pela Paz também teve como foco denunciar o desmonte da educação pública. Ela destaca que, dentro do território, muitos jovens que concluem seu ciclo formativo nos equipamentos como CEIs (Centros de Educação Infantil) e CCAs (Centros para Crianças e Adolescentes) acabam sem alternativas após os 15 anos de idade.
“É por isso que a gente está aqui reivindicando. Precisamos de projetos voltados aos adolescentes, porque muitos deles, quando saem do CCA, não têm para onde ir. Eles passam por vários serviços durante a infância, mas quando chega a adolescência, esse acompanhamento praticamente desaparece. E esse é um momento em que eles mais precisam de apoio, autonomia e perspectivas de futuro. É necessário que existam políticas que deem continuidade a esse cuidado, até mesmo no ensino médio, com projetos que ofereçam formação cidadã e profissional", afirma.
Ela também questiona o atual modelo de educação, centrado em salas fechadas e escolas muradas. “A educação não precisa ser toda cercada, isolada. A gente precisa repensar isso. Por isso, também nos inspiramos em propostas como a do projeto da EMEF Campo Salles, que traz uma visão mais aberta e integrada com o território para o atendimento aos adolescentes. É isso que estamos debatendo e defendendo neste manifesto: saúde, educação e, principalmente, a garantia de um futuro digno para nossos jovens”, pontua.
Uma das principais características da Caminhada pela Paz da região é o uso de adereços, fantasias e cartazes para ilustrar as reivindicações da comunidade. Neste ano, o educador Gilmar Pereira, do CCA Izaura Maria da Conceição, localizado na Favela do Boqueirão, organizou, junto com os alunos, um pequeno bloco temático para trabalhar a pauta do racismo estrutural - questão intrinsecamente ligada ao direito à educação, tema central do evento.
O bloco apresentou figurinos inspirados na letra da música “Negro Drama”, dos Racionais MC’s. “Trouxemos a discussão sobre o período da escravização no Brasil e refletimos sobre a invisibilidade do povo negro ao longo da história. O drama do negro continua, porque tudo o que aconteceu historicamente ainda impacta nosso presente, inclusive no processo de acesso e permanência na educação. Esse é o ponto que queremos destacar”, explicou o educador.
Ao final da apresentação, os alunos prestaram homenagem aos movimentos sociais da UNAS, como o movimento negro e o movimento LGBTQIA+. “A gente acredita que só é possível transformar a realidade por meio da educação e da mobilização coletiva. É exatamente isso que estamos fazendo aqui hoje”, concluiu Gilmar.
MANIFESTO
O PODER DA EDUCAÇÃO TRANSFORMA: CONSTRUINDO A PAZ COM PALAVRAS E AÇÕES
Esse manifesto é da gente. Do povo que acorda cedo, enfrenta ônibus lotado, fila no posto, salário apertado e ainda carrega essa cidade nas costas. A gente não quer muito — só o que é justo e nosso direito. E justiça também é PAZ.
EDUCAÇÃO virou cenário de Guerra.
Professor apanha, a escola cai aos pedaços, e o governador finge que não vê. Querem que nossos filhos estudem para mudar de vida, mas não garantem nem segurança nem salário digno para quem ensina. E o Estado ainda acha que o problema é o aluno. O problema é o descaso!
JUVENTUDE é transformação
Mas com futuro limitado a juventude se perde, empobrecida, colocando uns contra os outros. Resultado de um sistema que segue nos oprimindo. Manter o pobre, pobre, sempre foi o foco.
SAÚDE não é favor.
É direito, mas por aqui chega com falta. Falta médico, falta remédio, falta até maca pra deitar. E os profissionais do SUS, ralam e se desdobram. Trabalhar com dignidade também é direito. Enquanto isso, quem tem dinheiro se trata em hospital particular, com ar-condicionado e cafezinho. E a gente? Fica esperando meses por um exame que uma vida pode salvar.
TRABALHO sobre quais condições?
Querem nos calar com rotinas de trabalho abusivas, eles dizem que todos têm as mesmas 24 horas, mas para chegar no ganha pão são 2 horas de busão. Imagina 6X1? É muita exploração.
VIOLÊNCIA virou rotina .
A polícia protege os mais ricos, e quem nos protege? Na paulista uma viatura a cada esquina, e por aqui? Cadê a paz nas periferias?
COMIDA virou luxo.
Tá tudo caro! Até pra tomar café é uma dificuldade, enquanto isso os grandes mercados lucram com facilidade. Para os patrões o LUCRO é sempre mais importante. Como é que a gente vive sem o básico? Isso é desrespeito, exploração e violência.
O ESTADO? Sumiu.
Políticas Públicas para quem? Na hora de cobrar imposto, aparece. Mas pra garantir direito, nunca tá. Cadê o Estado e os grandes empresários quando o assunto é moradia? Quando o jovem precisa de oportunidade? Quando o professor pede socorro? Quando a saúde mental grita? Ausência de Políticas Públicas é uma decisão de uma elite que dita quem é que vai ter a vida mais digna.
Exigimos políticas públicas construídas com a gente e para gente. Não somos objetos de caridade: somos sujeitos de direito! Não queremos favor ou ilusão.
E a gente não vai mais aceitar ser esquecido. Porque o povo é força, é voz. Somos gente trabalhadora, não vamos mais ficar quietos. A gente não se cala e não aceita. Não somos apenas estatísticas, somos gente com nome, endereço e CPF, temos SONHOS e temos FÉ.
E PARA VOCÊ O QUE É TER PAZ?
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