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Escrito por Wallace França | Editor Douglas Cavalcante

UNAS recebe comitiva da Colômbia para Encontro Internacional em Heliópolis

O projeto binacional Atalaias Sem Fronteiras, fruto da parceria internacional de organizações situadas na América Latina e também na Suécia, concluiu suas atividades com o 3º Encontro Internacional realizado em Heliópolis entre os dias 20 e 23 de novembro. Uma grande comitiva vinda das cidades colombianas de Bogotá, Cali e Buenaventura, chegou no Brasil com a proposta de conhecer a realidade das comunidades atendidas pelos projetos da UNAS e também com a possibilidade do reencontro de maneira presencial dos jovens do projeto Observatório De Olho na Quebrada e de Cormepaz, para uma grande celebração e avaliação dos dois anos de projeto entre Brasil e Colômbia.


UNAS, Cormepaz (Corporação pela Memória e Paz), War Child e ForumCIV, deram início a essa importante e estratégica parceria em outubro de 2022, possibilitando o começo de um trabalho voltado para os jovens da América Latina, tendo como eixo comum de trabalho, a pesquisa, a coleta de dados, a preservação e o resgate da memória em diferentes contextos sociais, políticos e econômicos, colocando os jovens como protagonistas e líderes dentro desses processos. O encontro aqui no Brasil deu continuidade nas discussões e atividades que começaram em Buenaventura em julho deste ano, com um rico intercâmbio de metodologias, culturas, conhecimentos, ultrapassando as barreiras da língua e da distância física, culminando no tão esperado encontro presencial.

“A realização do Encontro Internacional aqui no Brasil demandou várias reuniões para organizar e preparar da melhor maneira possível a acolhida dos amigos da Colômbia. Foram dois outros encontros lá e agora recebemos todos aqui em Heliópolis e região para apresentar as atividades realizadas pela UNAS. Como anfitriões, avalio que conseguimos fazer uma excelente recepção, proporcionando toda uma logística de hospedagem, alimentação e agenda de atividades, apresentando a nossa culinária brasileira e também alguns pontos turísticos de São Paulo. Fizemos o máximo para retribuir tudo aquilo que recebemos lá em Buenaventura e Bogotá, fortalecendo as vivências e aprendizados adquiridos através desse incrível intercâmbio cultural, linguístico e também de práticas e ações dentro dos territórios”, destaca Reginaldo José, coordenador do projeto Observatório De Olho na Quebrada.

A chegada da comitiva aconteceu no dia 20 de novembro ainda pela madrugada. Uma viagem bem extensa, mas que se tornou muito especial por ter sido a primeira oportunidade internacional para quase todos os jovens e demais participantes do grupo. Yenny Ibarguen (22), Comunicadora Popular e participante do projeto Atalaias Sem Fronteiras da organização Cormepaz, destaca como foi esse processo de preparação, expectativa e emoção para vinda ao Brasil. “As minhas expectativas antes de chegar aqui no Brasil foram muitas e uma das primeiras foi de realmente poder aprender de que forma a UNAS e os demais projetos realizam os processos comunitários dentro desse grande território. Esse encontro tem um grande significado para mim porque sinto que essa luta pela paz e por essa construção de paz é comum tanto para Colômbia como para o Brasil e que através do projeto Atalaias Sem Fronteiras, nos permitiu fazer parte disso juntos. Para mim é algo muito interessante esses processos em conjunto com a juventude e sinto que esse intercâmbio está me ajudando muito no meu aprendizado pessoal porque não conheço todas as realidades vividas por outras comunidades. Apesar de grandes dificuldades que ambos os territórios passam no dia a dia, seguimos juntos como verdadeiros irmãos nessa luta.”


Depois de um breve descanso, o grupo chegou à sede da UNAS para uma grande acolhida com os jovens do projeto Observatório De Olho na Quebrada. Um momento único de reencontro, marcado pela emoção, acolhimento e amizade, celebrado com muitos abraços e muita alegria. Para o começo do encontro e para animar todos os presentes, uma grande dinâmica foi proposta e conduzida pelo oficineiro e múltiplo artista Sylvio Ayala, realizada na Quadra da UNAS, unindo a todos, que logo em seguida, puderam se apresentar e projetar as expectativas e objetivos em relação ao encontro internacional.

Logo depois do almoço, o grupo participou do ato realizado na Avenida Paulista por diversos movimentos populares em celebração do Dia da Consciência Negra. Ato de grande importância, que destaca a atuação assumida pela UNAS dentro da sua trajetória histórica, com um trabalho robusto através da educação antirracista e da luta popular e de resistência do Movimento Negro da UNAS. Ao término do ato, o grupo pode conhecer um pouco mais dos pontos turísticos da região.



No segundo dia do encontro, ambas organizações realizaram a apresentação institucional, que possibilitou rodadas de perguntas e respostas traduzindo ainda mais o sentido e a missão de cada organização. Esse momento aconteceu dentro do CCA Heliópolis que também realizou uma apresentação criada para o Festival Helipa Music, mostrando as características do trabalho político pedagógico através das artes plásticas, da dança, da música e também da composição. Durante esse momento, as crianças do CCA também tiveram a chance de conhecer um pouco da manifestação artística da cantora Aka Chola da cidade de Cali.

Marvin Castro Banguera, Educador Popular, nos conta suas impressões do trabalho realizado pela UNAS e evidência como esse aprendizado, por meio do intercâmbio, fortalece as ações realizadas por ambas organizações sociais, despertando e motivando a todos os jovens na continuidade da luta pela efetivação e garantia de direitos em ambos os territórios. “Esse encontro está permitindo que eu conheça a experiência de trabalho com crianças, adolescentes e jovens que é muito bonita, porque mostra que essas iniciativas ajudam a comunidade, proporcionando acesso ao que o Estado não oferece. Isso demonstra a força das organizações que tem essa base comunitária sólida que está unida, o que é diferente de Buenaventura. Lá os líderes trabalham com poucas pessoas, pois a comunidade não acompanha muito. Em contraste, em Heliópolis, a UNAS trabalha e a comunidade acompanha, o que ajuda a UNAS a ter respaldo e apoio comunitário. Isso permite a todos, ampliar o entendimento de como é o contexto social na América Latina, que, apesar das diferenças culturais e linguísticas, é muito semelhante em termos de empobrecimento e marginalização das comunidades periféricas. Levo do Brasil o desejo de conseguir algo como o que a UNAS tem feito em Heliópolis: unir a comunidade, trabalhar a partir de organizações comunitárias e fazer com que as pessoas vejam essas organizações como parceiras e que se tornem parte delas.”


Durante todo o terceiro dia, foi possível apresentar os projetos que acontecem na região do Jardim São Savério e também no Boqueirão, visitando os diversos projetos e escutando de lideranças, trabalhadores e dos moradores, como o trabalho da UNAS impacta a realidade de outros territórios. No final do dia, o grupo participou do Sarau organizado pelo Movimento Negro de Heliópolis, que contou com apresentações artísticas e com a participação do grupo Afoxé. Um momento incrível de manifestação cultural e de resistência.



No sábado, último dia do encontro, os jovens dos dois projetos e todos os demais coordenadores e lideranças, tiveram um momento celebrativo de encerramento, onde todos puderam realizar um verdadeiro balanço do que foi o projeto Atalaias, suas conquistas e uma projeção do que vem pela frente em ambas realidades. Muita emoção e gratidão resumem esse espaço de devolutiva e de comunhão. Jéssica Natalia Sanabria, Psicóloga com experiência em Psicologia Social e Comunitária, coordenou o projeto por parte da organização War Child e destaca a importância do que foi a realização do projeto realizado dentro dessas duas realidades e quais são os sentimentos que envolvem o final do projeto.



“O que mais importa é como esse plantio de sementes nos jovens que participaram — e me atrevo a dizer em todas as pessoas — nos transformou de alguma forma. Este projeto, acredito, foi um projeto cheio de desafios e, nestes dias, surgiu algo como um aprendizado: ao nos mantermos unidos, as pessoas que estiveram na base do projeto, fizeram com que ele siga em frente, mesmo com todos os desafios. Assim é a vida, vamos nos encontrar e desencontrar com pessoas. Levo comigo grandes aprendizados, crescimento, e agradeço imensamente que para os jovens também seja assim. Acho que, depois de uma jornada, porque toda jornada é uma busca, após essa experiência, tenho certeza de que eles e elas terão a mente, o coração e o espírito mais abertos para continuar perseguindo seus sonhos e aprendizados.”


Antes do retorno a Colômbia, uma visita ao comércio local movimentou bastante o grupo que teve a oportunidade de conhecer ainda mais o território, tendo um contato direto com a população de Heliópolis. João Victor, coordenador do projeto Atalaias Sem Fronteiras aqui no Brasil, enaltece o processo vivenciado simultaneamente nos dois países, com realidades que se assemelham muito dentro do processo de luta e que construíram juntos, um novo formato de atuação potente latino-americano.

“Heliópolis e Buenaventura são locais muito potentes, que existem independentes um do outro, mas foi muito bom quando essas duas organizações, que tem um trabalho local tão forte, se encontraram no projeto Atalaias, compartilhando seus conhecimentos e fazendo trocas importantes. Ensinamos e aprendemos em conjunto, onde Cormepaz nos ensinou muitas metodologias da preservação de memória e aprenderam com a UNAS, um pouco mais sobre incidência política, participando da organização da sociedade civil, e isso destaca a potência de cada uma das organizações e o mais bonito foi agregar e construir tudo isso em um projeto só, somando e criando uma nova forma de atuar com os jovens e com às comunidades a partir do protagonismo das juventudes com novas metodologias e tecnologias sociais, renovando e compartilhando mutuamente os saberes. O final desse projeto com o Encontro Internacional aqui no Brasil resume um pouco disso, passando o bastão para essa juventude que vai liderar ações aqui na América Latina a partir dessa formação e desses ganhos.”

Loren Sofia Palma, de apenas 14 anos, participou ativamente das atividades propostas no Encontro Internacional e finaliza com essa profunda reflexão do que foi essa experiência de intercâmbio e do projeto Atalaias Sem Fronteiras.


“Minha experiência no Brasil foi profundamente transformadora, não apenas do ponto de vista turístico, mas como uma verdadeira troca de conhecimentos. Em Heliópolis vi os desafios que a comunidade enfrenta, embora tenha aprendido muito sobre a sua forma de se organizar, sobre a força que têm para transformar a sua realidade e como trabalham em conjunto através de iniciativas como a UNAS e seus projetos. Poder compartilhar ideias com os jovens, me faz refletir sobre minhas próprias experiências e o contexto de onde venho. Foi incrível compreender como o acesso à educação, à cultura e à participação cívica podem capacitar uma comunidade. Ao mesmo tempo, li também as minhas próprias histórias, formas de pensar e a realidade de lugares como Buenaventura, o que gerou um diálogo muito enriquecedor no qual todos aprendemos algo novo.”

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