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  • UNAS Heliópolis

Toda crença e a não crença deve ser respeitada

Hoje no Brasil existem mais de 400 religiões sendo praticadas, mas por que algumas delas seguem ainda sendo perseguidas? É preciso se perguntar ativamente: por que a prática religiosa do outro ofende? E como a fé alheia me atinge?

 

A palavra "religião" deriva do latim religare, religar, voltar a ligar. Só se pode estabelecer uma religião, estritamente, quando aparece uma organização complexa, espiritual e social, com base numa revelação de um ou mais deuses. Hoje, dia 21 de janeiro é comemorado o dia Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, que foi instituída em 2007 pelo Presidente Lula, entrando para o Calendário Cívico da União anual, segundo a lei. A data é um marco no Brasil já que presta uma homenagem à Ialorixá Gildásia dos Santos, conhecida como mãe Gilda de Ogum, fundadora do Axé Abassá de Ogum, em Itapuã (BA), que em 2000 foi atacada dentro de seu próprio terreiro.


Desde 15 de maio de 1997, o Brasil considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra qualquer religião, mas antes disso, mais precisamente durante a colonização até o fim do século XIX era crime cutuar outra religião que não fosse cristã, mais especificamente o catolicismo, leis como essas que vigoram hoje garantem individualidade de todo cidadão, garantindo que a fé pode ser trabalhada conforme os valores e crenças de cada um.


Hoje no Brasil existem mais de 400 religiões sendo praticadas, mas por que algumas delas seguem ainda sendo perseguidas? É preciso se perguntar ativamente: por que a prática religiosa do outro ofende? E como a fé alheia me atinge? Já que a liberdade de culto (e de não culto) está presente na Constituição Brasileira. O Budismo, o Cristianismo, o Espiritismo, o Islamismo, o Judaísmo, o Neopaganismo, as Religiões afro-brasileiras, o Hinduísmo, o Santo Daime, as religiões ameríndias e os não religiosos, existem e precisam ser respeitados.


As religiões de matrizes africanas, infelizmente são as que mais sofrem com a intolerância, mostrando que o país sofre gravemente com o racismo religioso que é um conjunto de práticas violentas que expressam a discriminação e o ódio pelas religiões e seus adeptos, assim como pelos territórios sagrados, tradições e culturas afro-brasileiras. Elas têm muitos simbolismos e práticas, então qualquer distorção ou comparação delas com o mau é uma violência. David da Silva, 28 anos, Coordenador Pedagógico do CEI Simone é candomblecista e contou que já passou por situações de intolerância “Eu quando me iniciei no santo estava cursando pedagogia em uma universidade católica e eu tinhas as minhas restrições como andar de branco, não poder estar a meia noite na rua. Nesse período tive uma amiga evangélica que cuidou de mim em diversos aspectos, mas tive muita rejeição por parte de outros alunos, não sentavam perto, não queriam ter acesso a objetos que eu peguei, ia comer e o refeitório ficava vazio.”

As religiões de matriz africana, têm entre suas mais conhecidas o Candomblé e a Umbanda, mas elas tem suas vertentes, ou seja, não são todas iguais. Historicamente a matriz foi difundida e convergida em diversas religiões, dentre tantas, temos o Tambor de Mina, Jurema e o Culto de Òrúnmìlà-Ifá que com o processo escravocrata dos africanos, o Culto (e outros) foi difundido por diversos países, inclusive o Brasil. O Culto de Òrúnmìlà-Ifá é uma prática espiritual e de filosofia de vida baseada no culto aos Orixás, o Culto Yoruba entende que a transformação individual, transforma o coletivo.


Indira Khadi tem 28 anos e é Coordenadora Pedagógica do CCA Imperador, é praticante do culto tradicional Yoruba diz que “A minha prática espiritual é o que me mantém de pé, com esperança. Me conecta com tudo à minha volta e me faz perceber que tudo está interligado individualmente e coletivamente. Me ensinou a agradecer a Olodumare, por existir com consciência e amor, mais do que apenas sobreviver.”, ela mandou também um recado a quem é intolerante “Sinto muito pelos comportamentos e pensamentos pequenos, que faz com que você fique num mundo só seu e se distâncie da diversidade e pluralidade que é o universo e as culturas, não tente me converter, e Exú não é o diabo!”

Importante também enxergar que a intolerância vem muitas vezes disfarçada de justiça. O argumento do opressor ao violentar uma oferenda ou um templo, normalmente é associado ao bem e o mau, mas com um pouco de sensibilidade e atenção fica claro que o bem e o mau não estão nos lugares, sejam eles quais forem, mas sim nas pessoas. As religiões dão as ferramentas para que seja feita a conexão com o divino, nesse caso não importa o lugar que você frequente, mas sim o que você faz com sua doutrina.


A crença ou a não crença religiosa é um posicionamento individual, mesmo que a prática muitas vezes seja coletiva, por isso o movimento Fé e Política da UNAS luta para diminuir os preconceitos e pensa em políticas públicas para que os casos de intolerância não voltem a acontecer, “É preciso resgatar o espírito de luta social, a partir do conceito de Comunidade Eclesial de Base – CEBS, levando em consideração que o Estado é laico. Neste sentido, uma das bandeiras do movimento é o enfrentamento da intolerância religiosa, entendendo que a reunião de diferentes segmentos religiosos contribui de maneira significativa para se combater as práticas preconceituosas e intolerantes, sobretudo, as religiões de matrizes africanas.” disse Mércia Ribeiro, coordenadora do movimento.


A UNAS abertamente é contra qualquer tipo de preconceito, semeando sempre o respeito e a liberdade de expressão. Pensando nisso, deixamos aqui a Oração da Felicidade, que foi escrita pelo Pastor e Professor de História Henrique Vieira: “Que todas as crenças religiosas sejam respeitadas, e até mesmo a não crença religiosa. Que possamos comungar na crença da humanidade, da diversidade, do bem comum. Que seja declarada justa toda forma de amor. Que nenhuma mulher seja alvo do machismo estrutural. Que a juventude negra não seja alvo do extermínio. Que Marias Eduardas não sejam assassinadas dentro da escola. Que Marquinhos da Maré não sejam assassinados indo para a escola. Que Marielles possam chegar em segurança nas suas próprias casas. Que todo agricultor tenha uma terra para plantar, que todo sem-teto tenha uma casa para morar. Que os indígenas sejam respeitados nas suas crenças. Que as fronteiras acabem e as armas caiam no chão. Que a felicidade venha sobre nós, respeitando toda dor e consolando toda lágrima, porque felicidade de verdade só é possível sob a bênção da comunhão. Amém, axé, e o que de mais universal existe: amor”.


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