Estudo evidência o racismo ambiental em Heliópolis
Observatório De Olho Na Quebrada realiza mapeamento de áreas de alagamento em Heliópolis, que não constam no levantamento oficial da Prefeitura de São Paulo
Anualmente, durante as temporadas de chuva no território, grande parte da população sofre com as enchentes, incluindo alguns dos nossos pesquisadores. Todo ano a mesma coisa: os moradores sofrem com perdas materiais, traumas e impactos em sua saúde mental. Kesia Maria, moradora há 41 anos em Heliópolis relata os impactos que têm sofrido: “Quem mora aqui é sofrimento. O medo da gente é de cair tudo, quando começa a chover é aquele pânico”
Mesmo que seja uma questão de extrema importância para a população, envolvendo uma variedade de políticas públicas (infraestrutura urbana, moradia, saúde etc.), ao tentarmos mapear os pontos de enchente em nosso território, nós percebemos que existe uma subnotificação nas fontes de dados governamentais.
A presente pesquisa consiste em um levantamento das enchentes em nosso território, sua relação com o entorno e como isso impacta a vida dos moradores, em especial das mulheres de Heliópolis. Para isso, coletamos relatos de mulheres atingidas por enchentes, analisamos os dados governamentais, apontamos as falhas desses dados e mapeamos coletivamente os pontos de alagamento.
A partir dessa reflexão, decidimos realizar o mapeamento e levantamento de dados para dar a dimensão real do problema. Já que as fontes de dados governamentais existentes (Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas - CGE; Sistema de Alerta a Inundações de São Paulo - SAISP, Portal 156 e GeoSampa) estão incompletas.
A partir de um questionário online, os moradores nos ajudaram a identificar os lugares que inundam em Heliópolis. Além de mapear os pontos que alagam, realizamos entrevistas com seis moradoras, com objetivo de qualificar os impactos das enchentes. Contamos também com a parceria do Insper e do MIT - Instituto de Tecnologia de Massachussetts, para entre outras atividades, conduzir um grupo focal com mulheres atingidas por enchentes.
Aos 66 anos, Maria de Fátima improvisou uma comporta para minimizar os prejuízos da chuva. "Meu marido fez dois degraus, mas não adiantou. Aí fizemos essa comporta, mas eu não posso sair de casa à tarde, pois tenho medo de voltar e está tudo cheio de água".
Um dos principais pontos de alagamento no nosso bairro fica na fronteira com a cidade de São Caetano do Sul, um dos municípios com maior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil. Para entendermos melhor essa fronteira, capturamos imagens aéreas com drone, identificamos e analisamos as obras e projetos para contenção de enchentes em São Caetano do Sul e como isso afeta Heliópolis.
Em nosso estudo, elaboramos mapas que representam uma relação desigual e denunciam a existência de um racismo ambiental. O material que você esta lendo é o resultado desse levantamento. Clique aqui e leia o estudo completo