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Escrito por André Silva | Editor Douglas Cavalcante

Derrubada de muro, que dividia escolas em Heliópolis, tem promovido integração física e social entre crianças

Uma parte do muro que dividia a EMEF Gonzaguinha do CEI Margarida Maria Alves em Heliópolis, foi derrubado e tem gerado maior integração entre as crianças, além de fortalecer as relações entre escola e comunidade


Foi em 1970 que as primeiras famílias chegaram onde hoje é o Heliópolis e nos anos seguintes foi marcado por uma expansão territorial devido a necessidade habitacional, de construir suas vidas e sustentar suas famílias. Embora os mutirões de construções se expandiram pelos quatro cantos do território, um terreno localizado entre a Estrada das Lágrimas e a Rua da Fantasia que abrigava o campo do Flamengo, antigo time de várzea de Heliópolis, foi reservado e preservado para a construção de uma futura escola. Um sonho que todos em Heliópolis viveram juntos.

No início dos anos 1990 este sonho começou a se concretizar com a inauguração da EMEF Luiz Gonzaga do Nascimento Junior. O Gonzaguinha, como é popularmente chamado, representou um marco na educação no território que foi seguido com a construção da EMEI Otávio José da Silva Junior e posteriormente teve a chegada da CEI Margarida Maria Alves para completar esse espaço da educação. No entanto, o que poderia ser um trabalho unificado visando uma educação popular foi separado por muros de concretos e burocráticos.

 

Muros, grades e portões fortalecem a ideia de uma escola pública como uma espécie de prisão, sem contato com a comunidade. E então a equipe do Gonzaguinha resolveu inovar e começar um movimento de integração.  “Esse muro que separa as três escolas trazem uma falsa sensação de proteção”, diz Marília De Santis, diretora da EMEF: “Na verdade, esse muro é uma frustração para os estudantes, para os educadores e para a comunidade.” A diretora conta que começou um diálogo com o CEI Margarida no começo do ano de 2024, com as gestoras Valéria e Fabiana. “Eu disse a elas: ‘olha, a gente tem aulas em período integral aqui, temos crianças pequenas de seis aninhos e elas chegam aqui ao meio-dia e vão embora só às sete da noite, e não temos um parque, espaço para que elas possam brincar...”


 

Do outro lado, no CEI Margarida, o sentimento era o mesmo com Fabiana Rodrigues, gestora do CEI e Valéria Luciano, coordenadora pedagógica do CEI na época, que também viam uma ideia de integração entre os equipamentos e a possibilidade de uma coordenação conjunta, fortalecendo o conceito de Bairro Educador, que a UNAS promove em seu trabalho, entendendo a escola e os projetos sociais como centros de liderança na comunidade onde estão inseridos, atuando pela garantia de direitos humanos fundamentais. “Essa integração é o Bairro Educador.” diz Fabiana.

“Porque as três escolas, uma do lado da outra não tem um trabalho conjunto?” Para Fabiana, o muro não dividia apenas os equipamentos educacionais, mas também a criança como um indivíduo, uma vez que em um equipamento ela seria criança e em outro, pela lógica de ensino do estado, ela já não seria mais.

 

“A gente viu essa necessidade partindo do princípio dos direitos das crianças.” explica Valéria. “Quando uma criança vai para um ensino integral ela fica sem o direito do tempo de brincar, então como você fica tantas horas em uma escola assim?”

 

“Dentro de uma perspectiva de educação integral - e a gente já sabe disso há muito tempo, a ciência fala isso há muito tempo - as crianças na primeira infância na fase de alfabetização aprendem brincando. A criança brinca e não tem como ser diferente.” explica Marília.


O processo de integração entre a EMEF e o CEI enfrentou também muros burocráticos, o grupo de educadoras demorou meses para conseguir autorização da Secretaria da Educação para a construção de um portão entre as duas instituições. Mas até a construção dele, os professores e as crianças encontraram um meio de contornar este instrumento de segregação: “As crianças [do Gonzaguinha] começaram a vir diariamente pela Estrada das Lágrimas, sempre acompanhadas pelos professores.” conta Valéria. “Era muito difícil fazer todo o dia e ainda assim a gente fez, foi um trabalho de resistência”, explica Marília. “Isso mudou muito a vida das crianças, começaram a ter mais dignidade, porque a gente é uma escola sem espaço de lazer.”



Com a derrubada de um parte do muro, o acesso entre os dois espaços é mais facilitado e diariamente promove mais opções de lazer e interação entre as crianças da EMEF Gonzaguinha e do CEI Margarida Maria Alves, crianças como Yuri, Rafael, Matheus, Vitória e Louise atravessam o portão para ‘brincar de bola e abraçar a árvore’. Eles também adoram a companhia dos alunos do Gonzaguinha, como a Laura. Para os alunos do Gonzaguinha, a integração tem sido ótima e libertadora, com criança, por exemplo, achando que estava em um sítio ao ver a horta e o jardim mantido pela equipe e crianças do CEI Margarida.

No último sábado, 30 de Novembro, mas um marco neste processo, o Gonzaguinha e o CEI Margarida abriram as portas para a comunidade para celebrar e inaugurar o “Território do Brincar”, um espaço entre os dois projetos que promete viabilizar uma alternativa de lazer não apenas para os alunos, mas também para a comunidade.

“Para a comunidade, a união dos dois equipamentos educativos reflete cuidado e compromisso, ampliando o acesso a ambientes seguros e enriquecedores para as crianças.” explica Valéria.

 

O “Território do Brincar” permite às crianças de ambos equipamentos a terem acesso à: brinquedos, como gira-gira e trepa-trepa, horta, jardim, duas quadras, redario, um pátio e uma pracinha que serve como o marco zero para uma nova era educadora que envolva a escola e a comunidade. “A gente abriu esse espaço de decisão para o conselho [formado por alunos] de que nome a gente daria para a praça.” conta Marília. “Teria que ser alguém da região, alguém que já tenha ajudado a escola, alguém que a gente queria homenagear, e o conselho decidiu que seria o Buda, um amigo e vizinho da nossa escola que faleceu há dois anos.”



Carlos Eduardo Pedroso, o Buda, foi o primeiro passo de integração quando Marília chegou ao Gonzaguinha, na época ela encontrou algumas grades que davam para Heliópolis amassadas, a resposta que recebeu foi de que os moradores faziam isso para acessar a quadra aos finais de semana, uma vez que Heliópolis é escasso de áreas de lazer e esporte. “Então deixem o portão aberto.” disse Marília. Como amigo da escola, Buda ajudou a Diretora neste primeiro processo de integração com o território.


Heliópolis hoje ganha com a integração entre esses dois espaços educacionais, e busca ainda amplia-lo envolvendo também a EMEI Otávio José da Silva Junior para dentro desse processo de consolidação de práticas educativas e comunitárias do Bairro Educador. Cleide Alves, Presidenta da UNAS lembra a importância desse passo. “Quando falamos de educação integral, devemos olhar para um todo, as crianças nos mostram isso, quando estão ali pelo muro olhando o que há do outro lado, não é possível falar de educação integral, quando os muros nos separam. Conseguimos abrir uma brecha, mas o sono e ver todo esse espaço sem divisões físicas, e que o Bairro Educador seja essa integralidade”.

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