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A Voz das Mulheres na Rádio Comunitária de Heliópolis

Escrito por André Silva | Editor Douglas Cavalcante

As mulheres têm um papel de grande importância na história de Heliópolis e também na da UNAS, desde a chegada das primeiras famílias entre as décadas de 1970 e 1980 - como Genésia Miranda -, até hoje na participação de uma organização essencialmente feminista. Parte dessa história ganha um capítulo importantíssimo em 08 de Maio de 1992 a partir da necessidade de informar e mobilizar a comunidade sobre os interesses em comum, como as reuniões dos moradores. Com um transmissor, uma antena, uma vitrola e várias cornetas espalhadas pela comunidade surge a Rádio Comunitária Heliópolis, à época chamada de Rádio Corneta.

Gerohannah Barbosa, liderança comunitária, mulher trans e uma das percussoras da Rádio Comunitária Heliópolis | Foto: Cindy Tavares
Gerohannah Barbosa, liderança comunitária, mulher trans e uma das percussoras da Rádio Comunitária Heliópolis | Foto: Cindy Tavares

“A gente queria era puxar a orelha do povo, dizer que eles têm direitos, mas também têm deveres. Sem saber estávamos montando uma rádio comunitária.” explicou Gerohannah Barbosa à Folha de São Paulo em 2005, na época atuava como coordenadora geral e locutora da rádio. “A gente sabia que não adiantava botar um locutor famoso na rádio, que entendesse de técnica, mas não entendesse a nossa realidade, que não tivesse a nossa linguagem. Nós sabíamos falar com a favela, coisa que ninguém que está fora daqui saberia fazer.”


Ao longo de três décadas de existência a Rádio Comunitária Heliópolis serviu como um espaço diverso onde eram transmitidas informações do território e da imprensa, um estilo musical eclético e programas com temas plurais. E foi assim que sempre desempenhou um papel importante na promoção da diversidade de vozes e na construção de espaços democráticos. Assim como em outras esferas ao longo da história da nossa sociedade. Tradicionalmente dominada por vozes masculinas, a comunicação comunitária ganhou novas perspectivas ao abrir espaço para as mulheres da comunidade. Dessa forma, a Rádio Comunitária Heliópolis não apenas ampliou a representatividade feminina no rádio, mas também fortaleceu sonhos e pautou lutas feministas.


Drica Nascimento, tem 40 anos  é uma grande admiradora dos programas de rádio, é sintonizando que ela encontra as notícias pela manhã e “sempre que quer encontrar tranquilidade”, moradora de Heliópolis desde que nasceu, Drica tem uma história forte em Heliópolis com os projetos de UNAS, atuando nos Movimentos de Juventude Fala Jovem e no Movimento de Mulheres de Heliópolis e Região e no Movimento LGBTQIAPN+ O Grito da Diversidade, seguindo como coordenadora desses dois últimos.

Drica Nascimento nos estúdios da Rádio Comunitária Heliópolis | Foto: Douglas Cavalcante
Drica Nascimento nos estúdios da Rádio Comunitária Heliópolis | Foto: Douglas Cavalcante

“Tenho um vínculo de alguns anos, primeiro ouvindo logo quando iniciou a rádio e depois apresentando os programas Fala Jovem e Vozes,  Programa Vozes que foi uma das melhores experiências em comunicação que eu tive.” conta Drica. Ao apresentar outros programas na grade da Rádio Comunitária Heliópolis, como o programa Fala Jovem, Drica utilizou dessa ferramenta para criar um espaço de diálogo e reflexão, onde estendia as discussões do movimento de base que participava. “O rádio nos aproxima das pessoas por que podem ouvir de qualquer lugar, ter uma mulher dando a voz pode inspirar outras e representatividade pode afetar várias camadas da sociedade.” explica Drica. “É importante porque podemos nos ver neste lugar, ocupar espaços e dar voz a mulheres que não tiveram essa oportunidade de um jeito tranquilo e leve.”


Ao oferecer uma plataforma acessível e inclusiva, a Rádio Heliópolis se torna um espaço essencial para a promoção de debates sobre igualdade de gênero, direitos das mulheres e o combate à violência de gênero. Por meio dessa iniciativa, a rádio não só facilita a troca de experiências e vivências, mas também atua como um ponto de apoio para o empoderamento feminino. Ela cria uma rede de solidariedade onde as mulheres podem se fortalecer, compartilhar suas histórias e, assim, inspirar outras a se unirem na luta por um mundo mais justo e igualitário, contribuindo para a transformação social e a construção de uma sociedade mais respeitosa e livre de discriminação.

“A mulher não teria espaço se não provasse seu valor.” explica Drica. “Acredito que criar espaços de discussão e falar com pessoas reais que vivem essa diversidade, vai nortear o caminho de quem ouve e de quem faz a rádio. A rádio é uma maneira rica de ampliar o universo de todos."


Drica segue com o seu trabalho para uma quebrada mais igualitária e segura para as mulheres, seja através do CDCM - Sônia Maria, do Movimento de Mulheres de Heliópolis e Região ou em cada segundo de sua vida. Essa sororidade entre as mulheres de Heliópolis se estende em sintonia na história da Rádio Comunitária Heliópolis, uma vez que vai criando esses espaços para outras histórias que vem surgindo, outros sonhos que querem ser realizados, como o de Vera Lúcia, locutora da Rádio há quase dez anos.


“Minha história com o rádio começou na minha infância, sempre fui apaixonada por rádio.” conta Vera Lúcia, locutora da Rádio Comunitária Heliópolis. “Eu sonhava em conhecer uma rádio pessoalmente até que um dia recebi um convite para conhecer a Rádio Heliópolis, na época ainda era na Rua Paraíba.”


Assim iniciou sua trajetória dentro da Rádio, ainda distante dos microfones e contribuindo no operacional. Aos poucos foi conquistando o espaço dentro do estúdio com participações rápidas que conquistava os ouvintes, o sonho e a realidade ficava a uma sintonia de distância. “Um dia a Zefinha Oliveira [locutora de longa data da Rádio Heliópolis] me ouviu falando e me encheu de esperança, dizendo que eu deveria falar mais e os ouvintes depois começaram a ligar.” lembra ela.  “Então criei ainda mais coragem para encarar o que era só um sonho, depois desse dia nunca mais fiquei longe dos microfones.”

Vera Lúcia locutora da Rádio Comunitária Heliópolis | Foto: Cindy Tavares
Vera Lúcia locutora da Rádio Comunitária Heliópolis | Foto: Cindy Tavares

Foi uma questão de até que assumisse a liderança de programas na rádio, como o Programa Miguel Bezerra & Vera Lúcia - que segue na grade até hoje - e sua primeira experiência solo na Rádio Heliópolis foi como âncora do  programa  “A Saúde das Mulheres na Onda do Rádio” durante a pandemia, onde teve a oportunidade de conduzir uma série de entrevistas com profissionais especializados, abordando temas relevantes para o público feminino e promovendo discussões importantíssimas sobre saúde, direitos e bem-estar.


“Foi um programa enriquecedor e aprendi muito nele.” conta Vera. “Esse tipo de programa promove a equidade de gênero e falando de saúde, onde oferece acesso à informações especializadas e empodera as mulheres para cuidarem de si mesmas.”


O protagonismo das mulheres, como Drica e Vera, na construção da história de Heliópolis e da Rádio Comunitária abre um caminho para uma nova geração de jovens mulheres que encontram na UNAS e na Rádio um espaço para a afirmação de suas identidades, a luta pelos seus direitos e a construção de espaços de diversidades. Um marco dessa transformação tem sido o programa do Projeto Minas e Manos Unidos Desconstruindo o Machismo, que tem promovido a desconstrução do machismo visando uma sociedade mais igualitária e livre dos mecanismos de opressão. “Ao meu ver, a luta pela representatividade feminina na rádio enfrenta desafios como a discriminação e a falta de reconhecimento, mas também há avanços e oportunidades.” explica Isabelly Ferreira, 14, multiplicadora do Projeto MUDEM



“É muito importante ter uma mulher no Rádio, pois isso gera representatividade e isso mostra para outras mulheres que querem entrar neste meio que elas podem e conseguem ocupar esses lugares.”


Convidada em 2022 para participar do programa do Projeto MUDEM, Isa encontrou um espaço para falar sobre o feminismo negro ao vivo, percebendo que a Rádio Comunitária Heliópolis vai além de um simples veículo de comunicação, se tornando um ponto de resistência e resiliência, onde as mulheres, ao ocuparem esses espaços, ampliam a presença feminina em um meio historicamente dominado por vozes masculinas.

Isabelly Ferreira nos estúdios da Rádio Comunitária Heliópolis | Foto: Douglas Cavalcante
Isabelly Ferreira nos estúdios da Rádio Comunitária Heliópolis | Foto: Douglas Cavalcante

“A rádio já cresce muito com a representatividade, pois na rádio vão muitas pessoas de vários projetos e de diversas lutas falarem na rádio Heliópolis, então a rádio já é um lugar que tem muita representatividade e muita coletividade.”


A participação de mulheres como Drica, Vera e Isabelly vem contribuindo na construção de uma rádio que não só informa, mas também inspira e empodera, criando um ambiente de sororidade, resiliência e de oportunidades.


 

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