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27ª Caminhada pela Paz de Heliópolis mobiliza comunidade por cultura de paz no território

  • Escrito por Isabela do Carmo | Editor Douglas Cavalcante
  • 7 de jul
  • 5 min de leitura

Evento reuniu centenas de crianças, jovens, educadores e lideranças comunitárias em caminhada pelas principais vias da maior favela de São Paulo


“A paz é de todos ou não é de ninguém”. A frase, constantemente entoada pelas lideranças do Movimento Sol da Paz, ecoou fortemente pelas ruas de Heliópolis durante a 27ª Caminhada pela Paz, realizada na última sexta-feira, 4 de julho. Em cortejo pelas principais vias da maior favela de São Paulo, a passeata reuniu integrantes dos projetos sociais da UNAS, de equipamentos públicos e de organizações sociais que constroem, dia após dia, a vida comunitária local.

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Neste ano, o grito coletivo veio em forma de pergunta urgente: “Se tudo passa pela educação, por que a educação está sendo massacrada?”. Um chamado à reflexão e um pedido por resistência diante do desmonte da educação em Heliópolis - somado à urgente reivindicação por políticas públicas educacionais de qualidade, voltadas às crianças e juventudes que constroem o futuro do território.


A caminhada reuniu centenas de pessoas e teve início na EMEF Campos Salles, ganhando força a cada passo pelas ruas de Heliópolis. O trajeto percorreu a Rua da Mina, Estrada das Lágrimas, Rua Coronel Silva Castro e Avenida Delamare - ruas que, pouco a pouco, se encheram de vozes, faixas, fantasias, adereços e batuques. A força da mobilização chamou a atenção de quem passava, transformando o cotidiano em ato de resistência coletiva.


Destaques da caminhada


Entre as faixas e cartazes, destacaram-se aquelas que expressavam a oposição da população à privatização e ao desmonte da educação em Heliópolis. Para João Miranda, liderança comunitária e ex-diretor da UNAS, a caminhada é uma oportunidade para os mais jovens desfilarem e mostrarem o que produziram ao longo dos meses, refletindo sobre a luta por mais direitos dentro da favela.


“A Caminhada pela Paz e o conceito de Bairro Educador têm tudo a ver. A caminhada reúne e dá sentido aos trabalhos das crianças, é como um grupo de teatro de rua que luta pelo bairro e pelas pessoas da comunidade”, diz. 


Direito à educação de qualidade


A 27ª Caminhada pela Paz de Heliópolis teve como proposta reivindicar mais políticas públicas de qualidade para as crianças e os jovens do território. Além disso, reacendeu o debate sobre as propostas de privatização e o desmonte da educação pública - uma preocupação intensificada após o afastamento da diretora da EMEF Campos Salles e de outros 24 diretores de escolas públicas da cidade de São Paulo.


Leonarda e o marco da luta por justiça em Heliópolis


A Caminhada pela Paz surgiu como um grito da comunidade por um basta à violência, após o assassinato da jovem Leonarda Soares Alves, de 15 anos, vítima de feminicídio. Esse termo, aliás, só passou a ser reconhecido oficialmente no Brasil a partir de 2015.


A palavra "feminicídio" ganhou destaque com a aprovação da Lei Federal 13.104/15, conhecida como Lei do Feminicídio. A lei foi criada após a recomendação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre Violência contra a Mulher (CPMI-VCM), que investigou a violência contra as mulheres nos estados brasileiros entre março de 2012 e julho de 2013. Essa legislação alterou o Código Penal brasileiro, incluindo o feminicídio como uma qualificadora do crime de homicídio. Trata-se do assassinato de uma mulher motivado por sua condição de gênero - em contextos de violência doméstica, familiar ou por menosprezo e discriminação à condição feminina.


Para Mayara Esteves, 34 anos, coordenadora do Movimento de Mulheres de Heliópolis, o reconhecimento da caminhada como uma das grandes mobilizações do território é um chamado para a perpetuação dos direitos das mulheres.


“A Caminhada pela Paz tem extrema relevância na luta por direitos, não apenas do Movimento de Mulheres, mas de todos os demais movimentos sociais, por se tratar de um momento em que conseguimos dialogar diretamente com a comunidade e levar nossas pautas às ruas”, explica. 

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Em seguida, pontua: “Compreender que o caso de Leonarda, ocorrido antes da criação da Lei do Feminicídio em 2015, além de um crime brutal, se configurava como feminicídio, nos deu base para ampliar o diálogo sobre as violências que sofremos apenas por sermos mulheres. A participação na caminhada nos motivou, enquanto movimento, a realizar ações semelhantes, com o objetivo de ocupar as ruas e exigir nossos direitos.”


A origem da Caminhada pela Paz de Heliópolis


Em 1999, a jovem estudante Leonarda Soares Alves, de apenas 15 anos, foi vítima de feminicídio logo após sair da EMEF Campos Salles, onde cursava o ensino médio. Ela foi assassinada com tiros no rosto pelo ex-namorado, que não foi responsabilizado pelo crime. O caso abalou profundamente a comunidade de Heliópolis. Na época, o então diretor da escola, Braz Rodrigues Nogueira, hoje com 72 anos, buscou apoio de lideranças comunitárias para organizar uma manifestação contra o aumento da violência no território. 


João Miranda, na época presidente da UNAS, uniu-se à iniciativa. Junto com Braz, professores da EMEF Campos Salles e lideranças da UNAS, deram início à primeira Caminhada pela Paz de Heliópolis - uma resposta coletiva à violência que atingia a juventude da comunidade.

Desde então, há mais de 20 anos, a Caminhada pela Paz percorre as ruas da maior favela de São Paulo e se consolidou como um evento anual. A iniciativa oferece um espaço seguro de mobilização social, onde a comunidade reivindica direitos e cobra mais investimentos em educação, cultura, saúde e políticas públicas que promovam a paz, cidadania e a dignidade nas periferias, sobretudo em Heliópolis e região. 


Segundo Orlando Jerônimo, ex-professor da EMEF Campos Salles e um dos responsáveis pelo estopim da caminhada, essa mobilização continua atual. Segundo ele, o Brasil tem passado por um processo de adesão a ideologias de extrema-direita, marcadas pela promoção da violência e da discriminação.

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“O comportamento social das pessoas tem se tornado muito violento. Elas acham ‘normal’ agredir, serem violentas e até matar. Por isso, a caminhada se torna cada vez mais necessária. Se a violência aumenta, precisamos responder, buscar uma tentativa de garantir mais justiça social. Enquanto a sociedade continuar violenta, nós vamos continuar caminhando”, afirma. 


Além disso, para Orlando, a mobilização possibilitou o fortalecimento dos movimentos de base do território, ampliando os espaços de luta dentro da comunidade e mobilizando a população a se engajar na busca por direitos. “A caminhada é um combustível para que a luta continue”, diz. 


Em complemento, ele reforça: “Heliópolis nasceu de uma luta, a luta pela moradia. E a gente carrega essa resistência; esse é o sobrenome da comunidade, eu costumo brincar. A tônica dessa comunidade é lutar por direitos e por políticas públicas. Investindo no ser humano e na dignidade. E vejo esse sentimento ainda mais fortalecido hoje.”


 
 
 

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