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  • UNAS Heliópolis

UNAS participa do lançamento do Mapa da Desigualdade 2022

Antônia Cleide, presidenta da UNAS, participou do lançamento do Mapa da Desigualdade no painel para reflexão frente aos resultados apresentados. Os participantes do debate elucidaram como a desigualdade está presente na realidade da cidade, principalmente nas periferias que são afetadas diretamente pelos indicadores analisados e como o relatório pode municiar entidades, poder público e a própria população para cobrança de investimentos e propostas para mudança desse cenário.


No último dia 23 de novembro aconteceu o lançamento do Mapa da Desigualdade 2022 no palco do Teatro do Sesc Ipiranga, contando com participação presencial e online, com transmissão ao vivo pela internet. O relatório anual completou uma década da sua primeira edição (2012) produzido pela Rede Nossa São Paulo, trazendo informações dos 96 distritos da capital de São Paulo, abordando 56 indicadores das mais diversas áreas públicas como saúde, educação, cultura, entre outros, através de dados públicos e oficiais compilados e apresentados no formato de mapas, apontando pelos diversos índices, a desigualdade a partir da comparação entre distritos.


O objetivo desse levantamento é auxiliar a gestão e o planejamento municipal, identificando necessidades e contribuindo para que a discussão seja realizada, promovendo assim a elaboração e criação de políticas públicas para redução das desigualdades, com informações e análises, ampliando o conhecimento sobre a cidade e seus diversos territórios e observando como a pandemia da covid-19 acentuou os abismos sociais principalmente na vida das pessoas mais pobres, das mulheres e das pessoas pretas.


O Brasil hoje amarga a 9ª colocação como país mais desigual do mundo. Segundo Jorge Abrahão, coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, o combate para que essa marca seja superada passa pela análise de dados, mas sobretudo que possamos analisar o impacto que essas desigualdades causam nas pessoas e na sua trajetória de vida.


“Os números as vezes são frios, mas nós humanos gostamos de estar juntos. Ganhamos um presente que é a nossa capacidade de ter emoção e a razão e poder trabalhar essas questões. O Mapa da Desigualdade é um olhar para os outros, nos sensibilizamos com a dor dos outros e compartilhamos as alegrias dos outros, olhando para quem está em situação vulnerável para propor melhorias e avanços. É sempre importante lembrar que a desigualdade não é uma coisa natural. Ela foi construída pelos humanos, pelos nossos processos, métodos e por nossos modelos de desenvolvimento. Somos capazes de gerar riquezas, mas somos incapazes de distribuir. Se a desigualdade foi construída por nós também somos capazes de enfrentá-la.”


Alguns indicadores são destaque para entender na prática como esse modelo construído e planejado de exclusão se aplica nos diversos setores do cotidiano paulistano como por exemplo o índice da População em situação de rua que aumentou expressivamente; o indicador de Moradias em risco e sua distribuição concentrada nas periferias; o Tempo médio de deslocamento por transporte público que constata os grandes períodos que a população dos extremos da cidade levam para chegar ao trabalho (em média 73 minutos no distrito de Marsilac); o Acesso à internet móvel que mostra que em alguns distritos não tem sequer antenas; a Oferta de emprego formal que permanece concentrada nos polos centrais; a Remuneração média mensal do emprego formal onde temos uma diferença de quatro vezes da maior média em comparação com a menor; a Gravidez na Adolescência onde a maior incidência acontece na Cidade Tiradentes no extremo leste de São Paulo; a Idade Média ao morrer que chama atenção pela diferença de cerca de 21 anos entre os distritos com maior e menor média; Mortalidade por Covid-19 acentuada nos distritos periféricos; Tempo de atendimento para vaga em creche; a pouca ou a falta de Equipamentos Públicos de Cultura e Esporte; Violência Racial, contra a comunidade LGBTQIAP+ e contra a Mulher; os números do Feminicídio; Mortes por intervenção policial e Homicídios de jovens, são alguns pontos que marcam e deflagram o tamanho das diferenças sociais existentes.



Além dos principais apontamentos do relatório, um painel de reflexão e debate foi promovido contando com a participação de Antônia Cleide Alves, presidenta da UNAS, Raquel Rolnik, urbanista e professora de Arquitetura e Urbanismo, Oded Grajew, fundador do Instituto Ethos e da Rede Nossa São Paulo com mediação de Manoela Cruz, Mestre em Ciências Sociais e membra da coordenação da Rede Antirracista Quilombação e Conselheira no Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial da Cidade de São Paulo.


Antônia Cleide Alves, presidenta da UNAS, destaca a lembrança do primeiro lançamento do Mapa da Desigualdade há 10 anos, onde o criador Oded Grajew foi até Heliópolis divulgar o primeiro relatório e que depois de uma década, continua sendo de tamanha importância produzir e discutir os indicadores da desigualdade que assola principalmente as favelas da cidade.


“Na Pandemia víamos as crianças e sabíamos que elas estavam passando fome. Quando mandavam ficar em casa, sabíamos que não cabia todo mundo. Nós enquanto seres humanos não podemos nos conformar com a questão da desigualdade e da fome. Estamos em uma área de mais 1 milhão de metros quadrados, onde Heliópolis faz parte tanto dos distritos do Sacomã como do Ipiranga. Ficávamos incomodados por que víamos tanta violência, falta de creches, falta de projetos sociais, moradias insalubres e a falta de habitações e não nos sentíamos contados. Esse incômodo deu origem ao projeto Observatório de Olho na Quebrada para que pudéssemos olhar esses dados. Faço parte de uma organização que nasceu por toda essa desigualdade, pela falta de moradia, vencendo o despejo, saindo da nossa terra natal, dando início a tantas desigualdades. Precisamos levar o Mapa da Desigualdade para os nossos governantes, para câmara, assembleia, para o Prefeito para que os investimentos sejam destinados aonde realmente precisa.”

É concesso para o grupo de debate que será necessário analisar os dados e cobrar o Estado frente ao padrão da exclusão, porém uma grande pauta é identificar e reconhecer que existe um planejamento para manutenção dessas desigualdades onde a política de investimentos propõe tamanha distinção social como destaca Raquel Rolnik.

“É muito importante que a gente pense em aumentar os recursos para o investimento nas periferias, mas o mais importante ainda é discutir o que faremos com esse recurso. Coisa que jamais é debatido diretamente com quem mora, com quem vive, com quem vai viver as transformações que vão acontecer ali. O desafio será destrinchar os dados além dos distritos, pois distritos escondem desigualdades.”

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