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  • Escrito por Gustavo Pinto | Edição Douglas Cavalcante

Tudo passa pela educação, incluindo a diversidade


Tudo Passa Pela Educação, princípio este que é respeitado nos espaços da UNAS, discute a diversidade como representatividade para as crianças



Espaços educacionais precisam ter diversidade, seja ela de religião, sócio-econômica, de orientação sexual e de gênero. Na UNAS um dos princípios mais trabalhados é o Tudo Passa Pela Educação, princípio este que dita que todos, todas e todes podem ensinar e que todos os espaços são educacionais, mas hoje vamos falar sobre a importância disso tudo nos Centro Educacionais Infantis, as conhecidas “creches”, que é querendo ou não uma primeira vivência de sociedade onde a criança é inserida.


A inclusão é uma palavra conceituada como a capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes. Mas na prática, sabemos que o Brasil é um país com diversos dogmas e preconceitos, por hora vamos chamar de pré pois vamos trazer luz ao conhecimento já que o preconceito é um ato feito mesmo após tê-lo. Nosso país deveria ser laico, mas mesmo assim é intolerante com os não cristãos, deveria ser igualitário porém é racista, LGBTIfóbico e desigual, então por que imaginar que o espaço onde as crianças passam seu dia precisa ser inclusivo?

Os CEIs são conveniados com a Prefeitura de São Paulo via SME – Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, e desenvolvem um trabalho extremamente amplo no que se considera pedagógico, com o intuito de mediar o desenvolvimento sociocultural da criança desde o seu nascimento, a “creche” é onde acontecem as primeiras trocas, os primeiros contatos com o mundo fora de casa, é ali onde seu imaginário e lúdico é trabalhado e principalmente é neste espaço que ele começa a entender que o mundo é diverso, existem outros corpos, crenças… é onde o mundo deixa de ser somente o seu convívio.

Para as crianças não importa a sua cor, a sua religião, seu gênero, sua orientação e nem a quantidade de dinheiro que você tem, o que importa para eles é terem atenção e serem bem tratados, mas se para eles não tem problema em outros corpos por que em maioria mulheres cis héteros cristãs são as que mais ocupam esses espaços? Mais uma vez o Brasil não traz uma resposta pronta para essa indagação, esses espaços foram construídos nesses moldes, agora precisamos mudar, trabalhar para que a diversidade contemple também esses projetos.

Fernanda da Silva Souza, mulher branca cis e coordenadora pedagógica do CEI Leonarda Soares Alves, nos contou que uma mãe ao ver um professor homem gay trabalhando, se espantou e tomou atitudes drásticas na tentativa de tirá-lo da creche, isso porque este funcionário trabalhava a mais de um ano com a criança, mas a mãe não sabia, então a mesma fez um abaixo assinado com um grupo de pais para tentar tirá-lo da creche onde trabalha, “A gente trabalha com transparência, os pais não compraram a ideia dela, os pais que conhecem o profissional e o espaço onde seu filho está, confia no nosso trabalho, eu acredito que tenha que ter mais diversidade nesses espaços, para quebrar essas barreiras e esses preconceitos, o respeito vem com o convívio” contou ela.


Os pais que não entendem ou não aceitam outros corpos dentro dos CEIs são porque não conhecem o trabalho realizado lá dentro, não acompanham seu filho dentro desses espaços, pelo menos aqui na UNAS há um trabalho sendo realizado já a bastante tempo de trazer a família para dentro desse espaço, quanto mais próximo a família está do projeto, menos desconfiança existirá, “Eu às sextas-feiras faço integração entre as turmas e tem meninos que usam fantasia de princesa, se os pais vierem me questionar eu explico que eu trabalho o lúdico, o imaginário na criança, o que ela vai ser quando crescer é com ela, aqui eles vão aprender que a imaginação é enorme e precisa exercitar” detalhou David Souza, homem preto cis gay candomblecista e coordenador pedagógico do CEI Simone Agnalda Ferreira.

O pré conceito que aqui já foi posto trata do desconhecido, muitas vezes a reação dos familiares se resolve com as reuniões e com as visitas, mas e quando isso acontece dentro do próprio projeto? Com a equipe? Um caso aconteceu em nossa organização no passado com Dani Bananinha, que é um homem cis gay, que está na UNAS desde 2003 e hoje é cozinheiro do CEI Josefa Júlia, “Logo no início a cozinheira não quis trabalhar comigo por preconceito, mas falaram pra ela se ele não trabalhar bem mandamos embora, mas não é por ele ser gay que deve ser julgado e sim pelo trabalho. Depois de um tempo viramos amigas, e hoje sou cozinheiro porque eu quero, mas a UNAS me deu muita oportunidade nesses anos” relatou ele, mas o que aconteceu com Dani é mais uma vez a falta de conhecimento, o trabalho pedagógico não pode e nem deve acontecer somente focado nas crianças ali presentes, é preciso um olhar atento para a equipe, pois tudo isso pode de alguma forma se espelhar no trabalho realizado, uma pessoa que sofre preconceitos vive infeliz, reclusa muitas vezes.

Na UNAS existe um trabalho pedagógico feito também com as equipes, é importante conscientizar que aquele espaço educacional é laico, não tem diferenciação entre corpos, é respeitoso e acima de tudo inclusivo, todos ali presentes podem ensinar, mais uma vez Tudo Passa Pela Educação, David ressaltou que “Eu tenho meninas evangélicas que saíram daqui com roupa de candomblé para a Caminhada da Paz e isso é fruto do trabalho pedagógico dentro desse espaço, elas entenderam o significado da roupa e não usaram só como fantasia, as crianças ao ver alguma pessoa paramentada com sua religião estará curioso para conhecer, isso não é conversão é conhecimento”, trabalhos como este é um processo. É preciso despertar nas equipes para estes trabalhos, como já foi dito, o projeto é a primeira experiência de sociedade para as crianças, então por que apresentar uma sociedade preconceituosa se podemos mostrar que existe beleza e confiança no outro “Os pais sabem que as crianças aprendem comigo, mesmo eu estando na cozinha” contou Dani sobre sua experiência no CEI.

Queremos finalizar destacando a importância de existir a diversidade nesses espaços, reforçar que a diversidade precisa também lcançar os espaços de liderança, sem essa representatividade as lutas não serão vistas, as reivindicações não serão validadas, e se você tem alguma dúvida sobre o trabalho realizado dentro de nossas CEIs entre em contato conosco e venha conhecer de perto.


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