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Escrito por Wallace França | Editor Douglas Cavalcante

“A UNAS me fez ser a pessoa que eu sou hoje", conheça a história de vida de Fabíola

"Poderia ser parte de uma estatística hoje, mas hoje eu sou alguém", relata Fabíola dos Santos (36) que por meio do incentivo e o acesso à educação, vem mudando sua trajetória de vida.

Oportunidades, resiliência e a educação como eixo transformador, marcam a jornada de Fabíola e da sua família, que a partir da atuação em diversos projetos da UNAS e da participação dos movimentos sociais, ressignificaram suas jornadas, onde os impactos dessas iniciativas são perceptíveis ao longo de gerações.


Fabíola Mylane (36), mãe de cinco de filhos, moradora do Jardim Maristela, trabalha há 6 anos na UNAS Heliópolis e Região e hoje ocupa o cargo de Auxiliar de Enfermagem no Centro de Educação Infantil Cardeal Motta, mas conheceu a organização desde muito pequena através do contato da sua avó que participava ativamente do Movimento de Moradia. Como muitas pessoas que migraram do Nordeste na busca por melhores condições de vida no sudeste do Brasil, Fabíola e sua família encontraram condições muito adversas de moradia e de outras tantas necessidades. Mesmo com tantas dificuldades, Fabíola destaca como foi feliz nesse período da sua infância.


“Minha mãe veio grávida de mim do Pernambuco, então eu acabei nascendo aqui no bairro de São Miguel Paulista. Morei pouco tempo lá, até os cinco anos de idade. Quando vim aqui para Heliópolis conhecer minha avó acabei ficando com ela. Eu lembro que eu vivia correndo pelos becos, por mais que tinha de tudo ali, eu tive uma infância feliz. De toda minha vida, foi uma das melhores partes que eu tive foi a minha infância, ali eu tinha amigos. A gente passou por vários perrengues. Na época que tinha enchentes, eu lembro que muitas vezes o rio enchia e a minha avó lutou muito para poder sair dali e dar uma oportunidade melhor para mim e para os meus irmãos.”



Morando em Heliópolis, Fabíola relembra emocionada como sua avó participou das lutas ligadas ao Movimento de Moradia, na militância e na luta pela conquista de uma moradia digna onde ela narra grandes momentos de união coletiva e do enfrentamento por essas melhores condições de moradia. Nesse mesmo período, o atendimento pelos projetos da UNAS também surgem na sua vida, bem como a conquista da moradia. “Eu lembro muito dá época das reuniões onde minha avó saia e muitas vezes ela enfrentava a polícia e ali eu estava junto. Minha avó já apanhou de polícia, minha mãe já apanhou de polícia e eu ali pequeninha no meio. A UNAS entrou na nossa vida nesse período. Eu fiquei no projeto Parceiros da Criança e minha avó lutava para conseguir uma moradia digna pra ela e para minha mãe e elas conseguiram aqui no Cingapura do Maristela e do Parque Bristol, onde a gente veio morar aqui pelo fruto da luta delas.”


Em meio a uma infância de muito contato com as vulnerabilidades dos territórios onde habitou, Fabíola teve uma infância feliz onde em meio a muitas brincadeiras, nutriu muitos sonhos relacionados a sua vida acadêmica e pessoal. “Uma coisa ficou marcada em mim na infância, eu brincava muito de escolinha e falava que quando eu crescer eu teria cinco filhos e eu seria professora, mas também queria ser enfermeira para ajudar muitas crianças, o que acabou acontecendo. Tenho meus cinco filhos e eles são minha vida.”


Depois de muitos anos, Fabíola foi morar em Pernambuco, no Estado de origem da sua família. Foram 12 anos até o seu retorno para São Paulo, onde foi morar na cidade de Guarulhos. Nesse momento, a convite dá sua mãe que já participava do Movimento Negro, foi na plenária onde ali encontrou uma nova oportunidade de atuar como trabalhadora da UNAS. O convite para o movimento foi o primeiro passo de uma série de outros convites que impactaram a sua jornada, passando pelo trabalho e principalmente pela formação.


“Em 2018 eu fui convidada para participar do Movimento Negro da UNAS e escutei que iria precisar de uma pessoa para trabalhar no CEI Clímax e falei para minha mãe que na segunda-feira eu estaria lá bem cedinho para entregar o meu currículo, quem sabe não seja a minha sorte? Recebi a oportunidade de trabalhar, porém eu precisava voltar a estudar. Como eu morava em Guarulhos, nesse mesmo dia eu sai procurando casa e acabei alugando uma próxima da creche. Busquei meus filhos e meu marido e estamos aqui no território até hoje.”

(Foto Sabryna e Fabiola da então equipe de apoio do CEI Clímax em 2018)


Um novo lugar para morar, um emprego novo e a retomada aos estudos dão um rumo diferente para a vida de Fabíola que destaca que não foi um período fácil, mas que era necessário para a continuidade na realização dos seus sonhos, completando o Ensino Médio e seguindo com a sua formação.


“Voltar aos estudos foi bem cansativo porque tinha o trabalho e as crianças que ainda eram muito pequenas, então eu tive que me desdobrar. Uma carga muito difícil, principalmente para quem é mulher e mãe, mas eu consegui finalizar os meus estudos. Voltei a estudar por um grande incentivo e precisamos sempre de pessoas que incentivem a gente, porque se a gente não tiver, a gente não sai do lugar. Comecei a faculdade de pedagogia, mas precisei trancar porque não estava dando conta de pagar, ficou um pouco pesado. Fui para o segundo plano, a enfermagem. Vi que a mensalidade era fixa e não aumentava. Nesse momento trabalhava no CEI Clímax como auxiliar de limpeza e fazia o curso anoite. Saia correndo do serviço, tomava um banho e ia para o curso onde muitas vezes não jantava.”


Esse segundo plano, que também fazia parte dos seus objetivos, potencializou a mudança de função dentro da UNAS onde surgiu a oportunidade de atuar na sua área de enfermagem em um novo posto de trabalho, possibilitando melhores condições na trilha das suas metas.

“Hoje sou auxiliar de enfermagem, mas quem vê de fora acha que é muito fácil, eu mesmo quando era da limpeza achava que era fácil, mas tem toda uma rotina dentro da creche. Eu considero muito importante ter uma auxiliar no projeto que saiba lidar com algumas situações e até casos graves. Todo mundo aqui tem uma função e essas funções acabam se unindo.”


Os sonhos ainda não estavam completos para Fabíola e poucos dias antes de terminar o seu curso, realizou a inscrição e matriculou-se novamente para o curso de Pedagogia. “Faltava 20 dias para terminar o curso quando retornei para a faculdade de Pedagogia. Na nossa vida tudo é transformado e nos estudos é a mesma coisa. A nossa vida é continua e os estudos também, precisamos estar sempre aprimorando. Eu sinto que tem muitas crianças que precisam que eu esteja na sala de aula para ensinar e também para aprender com elas.”