top of page

Moradores de Heliópolis sofrem com alagamentos e descaso público

Escrito por Douglas Cavalcante

Os dias de chuva têm gerado apreensão e medo nos moradores da maior favela de São Paulo, e esse caos não é novidade. Sempre que chega o período chuvoso, diversos moradores são diretamente afetados por alagamentos que comprometem sua mobilidade, além das situações em que perdem tudo dentro de casa.


Renan José, 59 anos, é morador da viela santa luzia, local conhecido pelos alagamentos e pela infraestrutura precária de escoamento d’água, ele nos conta como são os dias de chuva na viela. "Quando começa a chover, daqui de casa eu vejo a água descer a viela. Minha casa está de frente, eu já fico triste, angustiado, né? Porque aqui a água sobe rápido. A gente fica aqui com o coração partido, um olha pra cara do outro: 'Meu Deus, tomara que não encha.' Se encher, perde tudo! Se não encher, graças a Deus, né?”. 

Renan José, morador de Heliópolis ao lado de barricada construída em frente sua casa para conter os alagamentos  | Foto: Douglas Cavalcante
Renan José, morador de Heliópolis ao lado de barricada construída em frente sua casa para conter os alagamentos | Foto: Douglas Cavalcante

"Esse ano, já encheu a casa da Dona Margarida aqui do lado. Foi muita água. Mas, aqui na minha, não encheu porque eu coloquei mais uma fiada de tijolo na frente da minha porta. Se não, tinha enchido aqui também, e eu tinha perdido tudo de novo."


Há anos a situação dos alagamentos é decorrendo, e a ineficácia do poder público em lidar com essa situação, só arrasta os problemas ao longo dos anos. Nesse registro fotográfico de 1992, do fotógrafo Juca Martins, é possível ver a cheia na Estrada das Lágrimas, principal via de acesso à Heliópolis, e as crianças na época brincando em meio as águas que tomavam a avenida.  


Mesmo com todos esses problemas, diversas áreas de Heliópolis que alagam não constam nas fontes de dados governamentais existentes (Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas, Sistema de Alerta a Inundações de São Paulo, Portal 156 e GeoSampa). Esses dados estão incompletos. Para isso, o Observatório De Olho Na Quebrada lançou, em janeiro de 2024, um estudo que realiza um mapeamento coletivo das áreas alagáveis em Heliópolis, com o objetivo de incidir na transparência dessas informações.


Alagamento na Estrada das Lágrimas em 1992 | Foto: Juca Martins
Alagamento na Estrada das Lágrimas em 1992 | Foto: Juca Martins

"Olha, a solução para o problema não é chegar e falar assim: 'Vamos arrumar aqui o esgoto.' Não vai dar certo! O que vai dar certo vai ser o quê? Arrumar daqui do Adão até a Rua Florestal, porque enche lá e a água retorna. Aí, aqui fica um rio. Fica um rio por quê? A água procura onde era o rio antes, a água procura aquele local. Tem que colocar umas manilhas maiores, porque a que está é pequena. Então, ela não aguenta, não suporta a quantidade de água. Nesses 37 anos que moro aqui, a Prefeitura não fez nada até agora." Relata Renan, que há trinta e sete anos, vê os problemas de alagamentos da região permanecerem sem solução. 


O alagamento tem afetado casas e locais dentro da comunidade, como no caso relatado pelo Renan, mas as cheias afetam também a mobilidade dos moradores, impedindo de se deslocarem, de poderem entrarem e saírem de determinadas regiões. Daniella Montibeler é moradora do conjunto habitacional redondinhos e conta como as inundações tem afeto sua vida. “Quando começa chover, não precisa ser nenhuma chuva muito forte, qualquer chuvinha já tá alagando a Delamare, aí a gente que usa transporte, já tem que ir procurando outras alternativas”.

Daniella aguardando transporte público em ponto localizado na Avenida Almirante Delamare | Foto: Douglas Cavalcante
Daniella aguardando transporte público em ponto localizado na Avenida Almirante Delamare | Foto: Douglas Cavalcante

Daniela é estudante e todos os dias utiliza o transporte público para se deslocar para as aulas de seu cursinho que acontecem na Avenida Paulista, ela explica como os dias de chuva afetam não só sua mobilidade pela cidade, mas também seus estudos. “É aquele negócio, eu tô na aula do cursinho e tô lá pensando nossa, vou ter que dar um jeito de chegar em casa. Porque eu sei que se eu pegar o ônibus eu vou ficar ali ilhada.”


Além de afetar o ir e vir de moradores, as enchentes impactam também na rotina, na vida e no psicológico dos moradores. Daniela descreve a apreensão e as consequências que ela tem vivido com as inundações no trajeto para casa. “No cursinho o tempo é muito valioso, você teve a matéria do dia e é necessário que você estude ela. Você ficar se preocupando com transporte e ter a possibilidade de ficar ilhado por sei lá quanto tempo, isso prejudica no estudo também, né? Não tem como ficar estudando no ônibus.”


Para buscarmos soluções para os problemas locais, é fundamental que eles sejam visibilizados. Por isso, o mapeamento realizado pelos jovens pesquisadores do Observatório De Olho Na Quebrada é tão relevante. A invisibilidade imposta pelos dados oficiais apenas reforça a realidade do racismo ambiental enfrentado pela população de Heliópolis.

 

Comments


Posts Recentes
Arquivo

Ligue:

(11) 2272-0140

Endereço: 

Rua da Mina Central, nº 38

CEP:04235460 -  Heliópolis SP 

  • LinkedIn

DOE AGORA

Siga a gente 

melhores ong 2020.png
melhores ongs 2017.png

© 2023 - UNAS Heliópolis e Região

Todos os Direitos Reservados 

bottom of page