Maio Laranja: UNAS promove caminhada pela proteção das crianças e adolescentes
- Escrito por Isabela do Carmo | Editor Douglas Cavalcante
- há 12 minutos
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18 de maio marca o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

Na última sexta-feira (16), educandos dos Centros para Crianças e Adolescentes (CCAs) Heliópolis, Cidade do Sol, 120 e Izaura Maria da Conceição saíram às ruas da comunidade de Heliópolis e região, na zona sul de São Paulo, em uma caminhada simbólica. O ato teve como objetivo chamar a atenção das autoridades e da sociedade para a urgência de mais proteção, segurança e políticas públicas voltadas à infância e juventude. A mobilização ocorre em um cenário alarmante: no Brasil, 13 crianças e adolescentes são vítimas de algum tipo de violência - sexual, física ou psicológica - a cada hora. Em números anuais, isso representa mais de 115 mil casos, segundo o Atlas da Violência 2025, divulgado nesta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Como forma de ampliar a conscientização e promover o enfrentamento dessas violações, o dia 18 de maio foi instituído como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data convida toda a sociedade a refletir, denunciar e agir contra a violência que atinge os mais vulneráveis.
A data foi escolhida em memória da menina capixaba Araceli Cabrera Crespo, de apenas 8 anos, que desapareceu em 18 de maio de 1973. Araceli foi sequestrada, drogada, violentada, assassinada e teve seu corpo carbonizado em Vitória (ES). Dias depois, seu corpo foi encontrado em um matagal. O crime brutal segue como símbolo da urgência no combate à violência infantil. Somente em 2000, a tragédia motivou a criação do Dia Nacional por meio da Lei nº 9.970/2000, com o propósito de alertar a sociedade e mobilizar esforços permanentes na defesa dos direitos de crianças e adolescentes. O 18 de maio, portanto, não é apenas uma data no calendário - é um chamado à ação coletiva contra qualquer forma de abuso e exploração sexual infantojuvenil.
Quando Ninguém Fala o Abuso Continua
Ariane Carla, 34 anos, coordenadora do projeto Violência Aqui Não Entra Não, destaca a importância do 18 de maio como um marco essencial no calendário escolar. Para ela, a data é uma oportunidade fundamental para tratar de um tema sensível, mas urgente: a violência contra crianças e adolescentes.
"É uma forma de alertar as famílias e dialogar com os alunos, e educandos sobre como prevenir as múltiplas formas de violência. Dói falar de violência, a sociedade não gosta. Mas a gente precisa falar, precisa ensinar as crianças a se protegerem. Não podemos invisibilizar essas violências que, infelizmente, também acontecem nos territórios periféricos e vulneráveis onde atuamos", afirma Ariane.
Segundo a coordenadora, as atividades com os educandos começam já em abril, como preparação para o Maio Laranja, nome dado ao mês dedicado à conscientização e prevenção da violência sexual contra crianças e adolescentes. "A gente inicia com oficinas que contextualizam o surgimento da data, adaptando os conteúdos para cada faixa etária. Com os pequenos, falamos sobre o cuidado com o corpo, os limites do toque. Já com os adolescentes, aprofundamos e discutimos a importância da denúncia", explica.
Após essa introdução, têm início os preparativos para a tradicional caminhada realizada na semana do dia 18 de maio. "Criamos músicas, faixas, cartazes. Saímos pelas ruas da comunidade para conversar sobre esse tema com todos. É uma forma de mobilizar e mostrar que as crianças têm voz - e que nós estamos atentos", conclui.

Erika Rodrigues, 33 anos, educadora no CCA Cidade do Sol, ressalta a importância de levar o debate para além dos muros da instituição. Para ela, realizar a caminhada nas ruas do bairro é essencial para envolver toda a comunidade na proteção das crianças. "É fundamental que o território saiba que esse tema é trabalhado com seriedade dentro do CCA, e que as crianças estão sendo empoderadas nesse sentido. A mobilização sinaliza à comunidade que o cuidado com o corpo da criança é uma responsabilidade coletiva. Não é só da escola ou da família, é de todos nós", afirma a educadora.
Miguel Porfírio, de 10 anos, educando do CCA Cidade do Sol, conta que se sente feliz em participar da caminhada pelas ruas da comunidade. “Aqui, a gente mostra para todas as crianças e adolescentes que eles merecem respeito. Falar sobre esse assunto é importante porque abuso e violência [seja sexual, física ou psicológica] não são coisas legais, e ninguém deveria passar por isso”, afirma.
Larissa Vitória Paixão, também de 10 anos, educanda do CCA Izaura Maria da Conceição, destaca que a atividade serve para encorajar outras crianças e adolescentes a falarem, caso estejam enfrentando alguma situação de abuso. “Elas podem se sentir mais corajosas para contar a alguém da família ou a um responsável, e assim fazer a denúncia. Isso ajuda os pais a ficarem em alerta e evita que casos como o da Araceli, no dia 18 de maio, se repitam.”
Enfrentamento das violações

De acordo com Mariana da Silva, 38 anos, conselheira tutelar do Sacomã, mudanças de comportamento são um dos principais sinais de abuso. “Medo excessivo, agressividade, regressão [como voltar a fazer xixi na cama], isolamento, queda no rendimento escolar, ou verbalizações estranhas sobre sexualidade. Também é importante estar atento a marcas físicas ou queixas de dor sem explicação aparente.”
A conselheira tutelar também explica que o órgão de proteção é responsável por garantir que os direitos da criança e do adolescente sejam respeitados. Ao receber uma denúncia ou identificar indícios de abuso ou exploração, o Conselho aciona a rede de proteção, como Delegacia, Ministério Público, CREAS, CRAS e serviços de saúde e psicossociais, para garantir o atendimento adequado à vítima.
Além disso, reforça que, na maioria dos casos, a violência tem origem no próprio ambiente familiar. “Recebemos principalmente casos de abuso sexual intrafamiliar, ou seja, cometidos por pessoas próximas da criança, como pais, padrastos, tios ou vizinhos. Também chegam situações de aliciamento por meio da internet e casos de exploração sexual, como quando a criança é usada com fins comerciais.”
Entre os principais desafios enfrentados pelo Conselho Tutelar no combate aos crimes de violência infantojuvenil, está a subnotificação. “Muitas vítimas não falam por medo ou vergonha, a falta de estrutura adequada para atendimento especializado e a morosidade em algumas respostas da rede. Outro desafio é a necessidade de formação continuada para lidar com casos tão sensíveis e complexos.”
Denúncia
As denúncias podem ser feitas diretamente ao Conselho Tutelar, ao Disque 100 (nacional e gratuito), às Delegacias de Polícia ou ao Ministério Público. O Disque 100 garante o anonimato do denunciante, o que encoraja mais pessoas a quebrarem o silêncio.

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