Clínica de Atendimento Psicológico oferece suporte para Crianças e Adolescentes em Heliópolis
Projeto Social da UNAS oferece atendimento gratuito à crianças e adolescentes vítimas de violação de direitos
O Núcleo de Atendimento Psicológico às Crianças e Adolescentes Vítimas de Violação de Direitos (NAPSI) é um projeto da UNAS, idealizado, discutido e estruturado a partir de muitos encontros e conversas do Grupo de Trabalho de Enfrentamento à Violência Sexual na Favela de Heliópolis e região. Foram cerca de 12 meses de encontros com muitos agentes ligados a rede de proteção e representantes dos projetos sociais da UNAS, onde pelo expressivo aumento da demanda de casos de violência infantil detectado nos projetos, uma ação urgente e concreta foi criada em contrapartida dessa triste realidade, dando os primeiros passos para o início do projeto NAPSI.
“A partir desse Grupo de Trabalho começamos a dialogar e refletir, vendo as frentes que tínhamos que atuar e percebemos que o que vinha mais forte e emergente nessas discussões a questão das violências de abuso sexual, violência doméstica e violência psicológica. E essa conversa não ficou só ali, a conversa vai expandindo e as pessoas vão dialogando umas com as outras. E nesse momento, surge uma pessoa que sentiu muito sensibilizada e que falou ‘olha no momento eu posso dar o suporte para vocês criarem o núcleo de atendimento psicológico”, destaca Mércia Ribeiro, coordenadora do NAPSI.
Em 01 de dezembro de 2023, com o apoio e a doação da escultora e desenhista Elisa Bracher, que acreditou e investiu no projeto com muita sensibilidade, acontece a tão aguardada inauguração da primeira clínica de atendimento psicoterápico individualizado e gratuito de Heliópolis e região, que mais recentemente contou com um novo apoiador Walfrido Warde é advogado, escritor e empresário e também tem contribuído para continuidade dos atendimentos do projeto. Um verdadeiro marco para proteção infantil através desse olhar sensível, a partir das necessidades do território, com uma robusta ação conjunta e em rede, que possibilitou a efetivação desse importante projeto social, com grandes expectativas para que outras clínicas como essa, sejam incorporados em toda a cidade e em todo o país, como uma politica pública.
“O NAPSI vem muito desse encontro, para que eu possa desenvolver integralmente esta comunidade, eu tenho que entender que cada ser compõe esse coletivo e compondo esse coletivo, a gente entendeu que pelo atendimento dentro da clínica, estamos resgatando esse indivíduo que um dia os seus direitos foram violados”, complementa Mércia.
Hoje o atendimento é realizado para 45 crianças e adolescentes vítimas de violação de direitos. O projeto oferece atendimento individual às crianças e adolescentes, bem como para suas famílias, para o fortalecimento e superação das violências sofridas, além de ser um espaço que promove formações mensais para os agentes da rede de proteção social e também atua como uma ferramenta para intervir em prol de políticas públicas no território.
É notório que o acesso ao atendimento psicológico ainda está restrito a um determinado grupo de pessoas que podem investir nesses atendimentos, privilegiando e elitizando esses espaços, porém esse direito é negado para uma grande parcela vulnerável da população que também necessita desse suporte. “É possível sim ter uma clínica psicológica em um território periférico, ainda que a Psicologia nasça para uma elite exercer essa profissão. A gente entende que a psicoterapia é muito importante na questão da saúde mental, mas não pode ser o único atravessador de cuidado para essa criança, temos que ter um cuidado com a educação, da saúde e os outros projetos e serviços públicos que podemos acionar para esse cuidado integral, criando estratégias em rede. Acredito que isso tem sido não só interessante, mas muito importante para os casos. Poder entender que esse cuidado tem que ser coletivo e não pode ser individual, não pode ser só do NAPSI, só do Conselho Tutelar, só da Escola, precisamos nos ajudar”, ressalta Kamila Domingos, psicóloga do Núcleo de Atendimento Psicológico às Crianças e Adolescentes Vítimas de Violação de Direitos.
O projeto conta com uma equipe de 3 psicólogas que realizam os atendimentos de até 45 minutos com cada criança ou adolescente, de segunda à sexta. O projeto é um espaço de cuidado e de escuta para que esse sujeito possa falar dessa violência, trazendo também outras vivências como o território, a escola, a família, os amigos, entre outros temas. “O NAPSI tem essa proposta muito inovadora que consegue acompanhar como essas crianças e adolescentes chegam, como eles vão se desenvolvendo, como eles vão se apropriando do espaço. Dois pontos centrais que a gente oferece é a continuidade dos atendimentos e a gente oferece tempo para essa criança ir se desenvolvendo no tempo dela, respeitando os seus limites e seus desejos, e isso é um ponto muito importante que a gente enquanto cuidador oferece, respeitando-a enquanto sujeito” nos conta Aline Gomes, Psicóloga do Núcleo de Atendimento Psicológico às Crianças e Adolescentes Vítimas de Violação de Direitos.
Uma das frentes de atuação é a formação continuada ofertada para toda rede de profissionais do território através de encontros formativos realizados mensalmente sempre com um tema, promovendo a partilha de conteúdos que darão apoio para os agentes de cuidado dessas crianças e adolescentes, possibilitando um cuidado continuo em outros espaços. Essas formações, possibilitam trocas e partilhas dentro da rede, e já é reconhecida como algo muito positivo e que também favorece muito as famílias atendidas, de maneira única. Mariana Maria, Conselheira Tutelar do Sacomã, destaca como esse olhar humanizado e esse trabalho conjunto é importante para a atuação em rede.
“Esse acolhimento que o NAPSI tem com as famílias é muito importante, eles abraçam de verdade, tendo um olhar diferenciado para as nossas famílias. Não é atender por atender porque é uma demanda, não. É uma família que precisa de um suporte e de um apoio. Eu sei que o NAPSI está ali, tem esse olhar de fato, é um trabalho diferenciado, é um trabalho que toda que rede deveria ter, um olhar humanizado para as nossas crianças, adolescentes e para nossas famílias do território.”