Jovem de Heliópolis é homenageado por seu trabalho como médico
Em reconhecimento ao excelente trabalho como médico da atenção primária, a cidade de Cocal, no interior do Piauí, concedeu ao Dr. Luis Alberto da Silva Reis o título de Cidadão Cocalense. Conhecido em Heliópolis como “Bebeka”, o Dr. Luiz é médico formado em Cuba, graças a uma parceria da UNAS que o levou ao país caribenho para estudar medicina. “A UNAS e Heliópolis me fizeram ser quem sou hoje. Se tenho o olhar humano, a atenção, esse contato com o povo, é porque venho do povo, sei o que é uma comunidade carente, o que são pessoas carentes e o que é ter a mente voltada para o trabalho social, em ajudar, contribuir com o desenvolvimento social e tentar melhorar a qualidade de vida da população”, explica Bebeka.
O médico nasceu em Teresina, no Piauí, e aos três anos veio para Heliópolis, onde cresceu e participou de projetos sociais da UNAS. Ao se tornar jovem, passou de educando a educador, e em reconhecimento a sua dedicação à comunidade, a UNAS o indicou para estudar medicina em Cuba. “Uma das coisas que aprendi na vida é a gratidão, pois muita gente me ajudou a chegar até aqui, então o mínimo que posso fazer é ajudar muita gente, não por obrigação, por carinho, me sinto bem fazendo algo por alguém, e como médico é ferramenta muito propícia a ajudar pessoas. E tenho feito uso dessa ferramenta”, conta Bebeka.
Ao retornar ao Brasil, ele ingressou no programa Mais Médicos, e foi alocado no município de Cocal, Piauí. Após quatro anos de trabalho na cidade, a Câmara dos Vereadores, por reconhecer sua grande contribuição à saúde do município, decidiu conceder a ele o título de “Cidadão Cocalense”, em cerimônia em 25 de julho. “Visto a camisa do meu município, faço trabalho com seriedade, sempre com foco na população. Atendo numa zona rural há 8 km daqui, mas não é só isso, já atendi em quase todas as unidades do município, inclusive zonas rurais que estão há 50 km do Centro. Na cerimônia, vi o pessoal chegando, foi me dando ansiedade, felicidade, sensação de reconhecimento, de que o trabalho está sendo reconhecido, e bateu uma emoção, uma gratidão, felicidade, sensação de que estamos no caminho certo, que o trabalho é esse e é por esse caminho que temos de seguir”, completa Bebeka.
Bebeka é um exemplo para diversos jovens de Heliópolis, e nos mostra que com oportunidade é possível transformar uma vida. Confira abaixo a entrevista exclusiva concedida sobre sua trajetória e visões sobre os caminhos para efetivar o direito à saúde.
1 - Como foi sua trajetória até se tornar médico em Cocal?
Bebeka: Minha trajetória é de muito sofrimento, muita luta, desgaste, persistência, teimosia, sempre com o princípio de que fui escolhido para estudar medicina e ajudar pessoas. Não escolhi estudar medicina, me escolheram para estudar medicina. Era um jovem de comunidade, a maioria de jovens das favelas, no Brasil e no mundo, às vezes tem caminho ingrato, que é o da criminalidade. Então para tirar muitos jovens desses caminhos se criam os projetos sociais. Desde muito novo, com 8 anos, já fazia parte de projetos sociais em Heliópolis, através da UNAS. Comecei como aluno, fui pegando gosto, mas mesmo como aluno, quando ainda estava muito vulnerável, recebia convites para trabalhar no tráfico, ser o famoso “aviãozinho” do tráfico, mas sempre com pensamento positivo, na família, na minha mãe que tanto lutava por nós, mãe solteira na época, sempre foi uma guerreira para proteger os filhos, e graças a ela nunca deixou que a minha vulnerabilidade me levasse para esse caminho, e preferi seguir o caminho dos projetos sociais. Fui me encontrando, gostando daquele contato com o povo, com outras pessoas, ter novas amizades, experiências, fui melhorando minha timidez, pelos projetos, trabalhos com artes, capoeira, teatro, fundamentais na minha vida para eu não ter medo de falar, de tomar postura. Por esses projetos sociais, chegaram as bolsas de estudo. Cuba tem convênio com países da América Latina e do mundo, de fornecer bolsas de estudos para jovens de comunidades carentes. Em Heliópolis chegou pelo então vereador Beto Custódio, que era do PT, três vagas destinadas para jovens de comunidade carente estudarem medicina em Cuba. Eu já era educador social, tinha 18 anos, quando bolsa chegou. Os diretores da UNAS me indicaram. Viram que eu estava no perfil, e aceitei.
E aí vem toda trajetória. A vida em Cuba foi um pouco tensa, um período maravilhoso, ótimo de aprendizado, em todos os sentidos, como profissional, ser humano, como pessoa. Cresci muito, me desenvolvi muito, me tornei médico depois de 7 anos. Ao voltar, em 2014, tinha que revalidar o diploma para trabalhar, mas o Mais Médicos abriu as portas pra gente, para exercer nossa profissão. Nos inscrevemos no projeto em 2015, não tínhamos muitas escolhas, vamos para onde realmente é carente e está precisando. Em São Paulo eram apenas 100 vagas, para muitos médicos, fui colocando Norte, Nordeste, coloquei São Paulo, Cocal, Parnaíba e uma aldeia indígena no Maranhão. Deu certo em Cocal, no Piauí.